Per Aspera Ad Astra: A história do mais querido do mundo (Capítulo X)
O Time do Povo
Por Filipe Martins Gonçalves
Após o ano crucial de 1915, o Coringão retoma sua senda de batalhas e sagra-se Campeão Invicto pela Liga Paulista em 1916. Considerando que havia ganhado de todos os clubes em 1915, mesmo tendo sido tolhido de seu direito sagrado à disputa oficial, o Time do Povo deveria ser considerado, nem que fosse por menção honrosa, como sendo o primeiro Tri-Campeão Invicto; não houvessem tolhido o direito do Corinthians, e os manda-chuvas sabiam perfeitamente que isso aconteceria, tanto que colocaram o Time do Povo para escanteio, o Corinthians seria Tri-Campeão Invicto, com todos os méritos. Na prática, vemos que foi.Mas nos anos seguintes, mudanças sobrevieram ao time e ao Clube.
Jogadores considerados peças-chave, como Fúlvio Benti, o goleiro Sebastião, o meia-esquerda Francisco Police, que estiveram jogando pelo Corinthians desde que saltou da Várzea ao Futebol oficial, por diversos motivos, saíram.
Naqueles tempos, desfalques tão importantes não eram rearrumados de uma hora para outra. E embora o segundo quadro tivesse sido campeão por diversas vezes nesta primeira “fila” até 1922, o Timão principal ainda testava diversas formações até se acertar no ano do Centenário da República.
O Corinthians era um clube amador, como já dissemos em diversas oportunidades nesta série, e por isso mesmo não mantinha seus jogadores pelo pagamento de bichos, ou por vínculo empregatício de diretores do Clube, ou por qualquer outra forma que não o Amor Incondicional ao Manto Sagrado.
E a única forma de acertar o time era jogando bola, com a formação que se tinha. Isso tudo, no Corinthians, custava suor e muita dedicação. Não havia regalia para ninguém. Pelo contrário, para estar no Corinthians, o sujeito precisava mostrar que não afinava na dividida, e que tinha trato com a bola.
E a única forma de acertar o time era jogando bola, com a formação que se tinha. Isso tudo, no Corinthians, custava suor e muita dedicação. Não havia regalia para ninguém. Pelo contrário, para estar no Corinthians, o sujeito precisava mostrar que não afinava na dividida, e que tinha trato com a bola.
Era necessário sacrifício intenso, em todos os dias, de todo mundo e de cada um.
Assim, se o Corinthians passou um tempo sem “ser campeão”, coisa que nunca quis dizer mais do que “ser Corinthians”, arrumou a casa para o que viria no futuro.
As arestas das crises de 1915, que ainda reverberavam, tinham de ser resolvidas. Entra Presidente, sai Presidente, os Corinthianos se acostumavam com as crises. E aprendiam, com todo este sacrifício, a usar o veneno das crises como antídoto contra a própria crise. Sem nunca baixar o braço ou a cabeça.
A Sede podia ser uma saleta modesta, nas assembléias a coisa fervia, mas em campo o Coringão deitava e rolava, era um Timão. Vem desta época o apelido que os próprios Corinthianos impuseram ao Clube. Os detratores chamavam-no de “clubinho”. Pois a Sede, humilde, não comportava sequer o vulcão da assembléia; mas em campo, meu amigo, é um Timão.
Já em 1916 se percebia que o terreno do Lenheiro, arrendado desde setembro de 1910, e usado sempre para as partidas de Várzea, ou do Futebol “não-oficial”, ou então para os treinos de todos os quadros, já não era suficiente.
O Corinthians havia crescido, a cidade havia crescido, a Torcida havia crescido.
Mas não havia “mobilidade financeira” alguma para passo nenhum em qualquer sentido.
E mesmo que o quadro associativo estivesse crescendo a olhos vistos, a maioria dos Corinthianos eram trabalhadores, não havia mecenas nem endinheirados que cometessem loucuras com a própria fortuna. E tampouco os Corinthianos aceitariam que assim fosse. A Sede administrativa peregrinava por salas e salões, da rua dos Protestantes para a rua dos Estudantes, para o Largo da Sé.
Entre os novos associados do começo de 1916, havia um senhor daquelas antigas famílias “quatrocentonas”.
Alcântara Machado é hoje lembrado por quem atravessa o Brás, a Mooca e chega ao Tatuapé. Muito mais por uma placa indicando o nome da avenida que pela valorosa ajuda que prestou ao Clube de seu coração.
Alcântara Machado é hoje lembrado por quem atravessa o Brás, a Mooca e chega ao Tatuapé. Muito mais por uma placa indicando o nome da avenida que pela valorosa ajuda que prestou ao Clube de seu coração.
Foi José de Alcântara Machado quem conseguiu fechar contrato com a municipalidade, onde o Corinthians arrendaria um terreno na região conhecida como Floresta.
Engana-se quem pensa “ah, pronto, estamos feitos”, como aconteceu a outros clubes, em ocasiões escusas, ao contrário desta nossa, aqui.
Pois o Corinthians fechou contrato de arrendamento às claras, com uma carga de deveres gigantesca, e os Corinthianos tiveram que trabalhar, braçalmente, varando as madrugadas, em mutirões que pareciam não terminar nunca.
Engana-se quem pensa “ah, pronto, estamos feitos”, como aconteceu a outros clubes, em ocasiões escusas, ao contrário desta nossa, aqui.
Pois o Corinthians fechou contrato de arrendamento às claras, com uma carga de deveres gigantesca, e os Corinthianos tiveram que trabalhar, braçalmente, varando as madrugadas, em mutirões que pareciam não terminar nunca.
Para honrar o contrato firmado, o Sport Club Corinthians Paulista fez das tripas coração.
Nem um centavo foi “adquirido” do poder público. Muitíssimo pelo contrário.
Em 27 de julho de 1916, segundo documento público, lavrado e escriturado, travava-se entre o Corinthians e a Prefeitura o arrendamento de um terreno situado à Rua Itaporanga, na Ponte Grande. O Presidente, João Baptista, firmava o contrato de cinco anos, para fins esportivos, dos treze mil e quinhentos e seis metros quadrados, ao preço de cento e dez mil réis mensais. Caso em três meses consecutivos se desse falta deste pagamento, a prefeitura teria, por este contrato, o direito de reaver o terreno, não importando as benfeitorias que ali tivessem sido empregadas, nem a que custo tivessem sido concretizadas.
Era um contrato de altíssimo risco, e era o que o Poder Público dispunha para o Clube do Povo. Até porque havia a cláusula marota, a 5ª, que dizia “Se findo o prazo deste contracto, ou antes, a Municipalidade precisar do terreno para a formação do parque ahi autorizado, o S.C. Corinthians Paulista obriga-se a desoccupal-o dentro do prazo de dois mezes“…
Além disso, toda a construção, e frise-se, os aterros necessários, teriam que ser feitas por conta do Clube.
Quando João Baptista, na Assembléia subseqüente à assinatura deste temeroso contrato, o lê para que todo Corinthiano tomasse conhecimento, o sentimento de alegria, por se ter conseguido grande passo em direção ao futuro, se mesclou com o sentimento de agonia. Muito trabalho teriam os Corinthianos, como se viu, até o dia da inauguração, em 17 de março de 1917.
Vale fazer notar que o terreno ficava ao lado do terreno da A.A.Palmeiras, adversário elitista que participara do passa-moleque de 1915.
A História continua…
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O blog é sobre o Corinthians e eu sou chato pra caralho.