sábado, 23 de janeiro de 2010

Per Aspera Ad Astra: A história do mais querido do mundo (Capítulo XII)

Per Aspera Ad Astra
Por Filipe Martins Gonçalves

O primeiro jogo interestadual do Corinthians Paulista aconteceu após seu primeiro jogo internacional.

Em 1914, o Coringão enfrentou o Torino por duas vezes, no campo do Parque Antárctica, quando ainda não tinha tido o azar de ser posse da Società, a tal da Società Palestra, contra quem já havíamos disputado uma peleja - a primeira de muitas - em 6 de maio de 1917. Nesse dia, caía a invencibilidade do Corinthians Paulista, que rendeu um tricampeonato invicto (leia os capítulos anteriores).
O leitor se lembrará de quando dissémos por aqui que, desde que Neco e Amílcar tinham subido ao primeiro time, o Corinthians jamais havia perdido uma partida, assim como na infância Varzeana.
Mas como, decerto, esse Derby ainda tem muito a ser esmiuçado, nos deteremos nele em momento oportuno.

Naquela tarde de 1º de dezembro de 1918, na Ponte Grande, construída por mãos Corinthianas, o Corinthians Paulista receberia um convidado ilustre da Capital do País.
Uma grande recepção foi proporcionada na Estação da Luz e a aristocracia, com seus boatos e jornais, acompanhou tudo. Tanto a daqui quanto a carioca.

Mas o que importa é que a cidade mais uma vez parou para ver o Corinthians jogar.

E já era assim, mesmo com o 3º lugar no campeonato de 1917, que já era um torneio unificado. A APEA e a Liga Paulista se "resolveram". Foi um ano de muito sacrifício para os Corinthianos. Como sempre no Corinthians, havia um dragão por dia para São Jorge liqüidar. Às vezes até mais de um.
Naquele ano o artilheiro foi Friedenreich, jogando pelo ilustre C.A.Ypiranga.

O ano de 1918 foi marcado pela "neve na Avenida Paulista", que na verdade não passou de uma "sublimação de nevoeiro"¹.
Foi marcado pelo fim da Primeira Guerra.
Pela epidemia de Gripe Espanhola, que não foi pouca coisa.
E o campeonato de 1918 foi marcado pelo abandono de alguns clubes.
O Palestra abandonou o campeonato já na sexta rodada, sendo que o número de participantes havia passado para dez.
Lembram-se do Minas Gerais, que disputou com o Corinthians o acesso à Liga Paulista? Subia à primeira divisão em 1918; aliás, o Corinthians foi campeão em 1918 com o segundo quadro, que jogava essa segunda divisão.
Mas o Minas Gerais, dessa vez, tomou só de 7 a 0 do Coringão, em 30 de junho, e de mais 5 a 0, em 2 de setembro.

O Timão estava ainda se acertando, com Medalha no gol, Nando fazendo a dupla de zaga com César Nunes, que foi recuado da centro-esquerda² para suprir as ausências simultâneas de Fúlvio e Casimiro, legendária zaga Alvinegra de 1913 a 1917. Achilles Ciasca surgia do segundo quadro já em 1917, para o lugar antigo de César Nunes. Amílcar, desde 1917, não mais jogava de centro-avante, e sim de centro-médio. Na meia-esquerda, em 1918, estava Gano, que em 1919 viria a substituir o Glorioso César Nunes na posição de zagueiro esquerdo. Américo pela ponta-esquerda, Neco pela meia-esquerda, Bororó de cento-avante, Garcia na meia-direita e Rogério na ponta-direita.

Ganhamos do Paulistano por 2 a 1, no dia 8 de setembro, e em 22 de dezembro o Coringão foi derrotado por 0 a 1, na Ponte Grande. O campeonato acabou só em janeiro do ano seguinte, como passou a ser comum demais por aqui, durante muito tempo.
Mas naquela época, comum era o Friedenreich ser artilheiro. Pela primeira vez, em 1918, pelo Paulistano.
Mas falávamos do primeiro jogo interestadual do Coringão, não é?
Então, voltemos ao dia 1º de dezembro de 1918.

O que importa é que nesse dia a Paulicéia parou para acompanhar o Corinthians, como passou a ser muito mais comum e rotineiro que o Friedenreich ser artilheiro.
Neste dia talvez ninguém tivesse a noção de que, segundo pesquisas atuais, esse Clássico interestadual moveria algo em torno de 55 milhões de corações. E que seria chamado de "Clássico do Povo".
Corinthians e Flamengo se enfrentaram há 91 anos, pela primeira vez, e o Coringão fez o "O Imparcial", do Rio de Janeiro, estampar em sua manchete:

"Futebol impressionante do Corinthians"

O Coringão venceu por 2 a 1, com uma variação da formação descrita acima. Entrou com Medalha; Nando e César; Ciasca, Amílcar e Gano; Américo, Neco, Armandinho, Garcia e Basílio.
E pela cidade os Corinthianos fizeram Festa, e encheram o céu de rojões.

E a História continua...

¹No dia 25 de junho de 1918, a temperatura na madrugada paulistana caiu a 3ºC negativos. A região da Paulista era cercada de mata atlântica úmida, e ali é, e por muito tempo será, o lugar mais alto desta cidade. A água em forma de vapor do nevoeiro da madrugada encontrou o frio que congelou as gotículas, transformando-se em "pó de gelo". E isto não é lenda. A Avenida Paulista dos casarões dos barões amanheceu coberta por fina camada branca de gelo.

²Mera adaptação da denominação inglesa "Center-left".

0

Postar um comentário

Se você é Porco, Sardinha, Bambi ou torcedor de qualquer outro time de menor expressão e quer que seus comentários sejam aprovados, escolha bem suas palavras.

O blog é sobre o Corinthians e eu sou chato pra caralho.