Per Aspera Ad Astra: A história do mais querido do mundo (Capítulo XVII)
“Per Aspera Ad Astra”
Por Filipe Martins
A década de 20 foi a conseqüência óbvia da luta dos Corinthianos para vencer um dragão por dia, a cada dia, na primeira década de vida do Corinthians.Se o caminho trilhado foi o da superação completa e irrestrita, a década de 20 foi a consagração do Corinthians Paulista. O Corinthians se consolidou, nesta década considerada dourada; “Colheita gloriosa da semeadura feita, com amor (…) nos dez anos anteriores”¹…
O Corinthians conquista o país, se nacionaliza. Na década de 20, o Coringão é falado no Brasil todo. Mas sem luta, nada seria.
Como no ano de 1915, em uma crise que parecia não ter fim e mesmo assim o Corinthians permaneceu invicto, em campo e nos corações.
E foi alijado da disputa oficial. Em 1916 deveria ter se sagrado tri-campeão invicto (nas três oportunidades, invicto!), não fosse a mesquinhez de uma rasteira de quem se considerava “dono da bola”.
Foi na década seguinte, portanto, que os frutos desse esforço conjunto ganhou corpo, saiu da idéia e aconteceu na realidade. O Corinthians mostrava a força de seu arrojo, tendo como cenário a Ponte Grande.
O Campeão do Centenário (e campeão entre os campeões no Brasil do ano de 22), o Corinthians veria a espinha dorsal Neco-Amílcar comandar a primeira década e o Bi-Campeonato de 22-23, apesar de ter de dividir os jogadores com a Seleção.
O segundo tri-campeonato (considerando desfeita a injustiça iníqua do ano de 1915) do Corinthians acontece naturalmente, sob a batuta de Guido Giacomelli e seus craques, mas em 1923, único ano que a Ponte Grande viu a Festa de comemoração de um campeonato, essa espinha dorsal é desfeita.
Grané chega ao Corinthians, compensando a ausência de Amílcar, e com Del Debbio fazem a melhor dupla de zaga que já se tinha tido notícia. De 25 a 27 o Corinthians passou resolvendo pendências, ajustando o time novamente.
Época de Gambarotta, apelidado Gamba, o artilheiro do Centenário. Que durante os anos de 26 a 28 jogou com seu irmão, o Gambinha. Os dois irmãos eram centroavantes, mas havia um terceiro, que figurava entre os reservas e era médio². Rato, Rodrigues, Tatu, Colombo, Tuffy. Guido, o presidente que era técnico.
E Neco, claro. Que em 1927 arrumou encrenca em um jogo contra a lusa e foi achincalhado pelos jornais. Não havia sido primeira, nem a última encrenca que Neco arrumara, mas o Corinthians “precisava” ter sua imagem pejorativamente tratada. Desde sempre.
A “liga amadora” necessitava de factóides para manter a versão do futebol “ilibado” que os clubes filiados a tal liga mantinham.
Com Neco fizeram o que fizeram também ao Pequeno Polegar, durante a década de 50; não o convocavam para a Seleção, pois representava o Corinthianismo demais.
Além disso, a Fazendinha é comprada, reformada, inaugurada, e logo no ano de inauguração do campo é coroada com mais um campeonato, em 28. O “Clube dos Carroceiros” se consagrava, com sua Sede e seu Timão.
Em 1929 Neco recebe a homenagem que pode ser contemplada nos jardins do Parque São Jorge.
Seu busto representa muito mais que o reconhecimento de tudo o que Manuel Nunes fez pelo Corinthians e pelo Futebol. É uma posição “política” dos associados do Corinthians Paulista, respondendo ao que se fazia da imagem deste Guerreiro, na época.
Da espinha dorsal, conta-se que Amilcar era o grande craque. Mas foi Neco quem teve a bravura de driblar quatro uruguaios e amaciar a bola para Friedenreich apenas rolar pra rede; o Brasil era pela primeira vez, campeão Sul-Americano.
Amílcar era o técnico, mas quem ficou reconhecido por aliar habilidade com espírito incomum de luta foi Neco. E quem jamais abandonou o Corinthians, foi Neco.
Em 1930 já encerrava a carreira, e ainda comemorou o terceiro Tri (1915!).
Em vinte anos de Vida e História, o Corinthians foi campeão nove vezes, todas as vezes com Neco. Sendo que os três primeiros anos de vida foram vividos na Várzea.
O Corinthians, todos sabem,começou pequeno... Um Gigante que nasceu amparado por sua Torcida. E Neco começou na Torcida, foi ao Campo, depois permaneceu na Torcida. Jamais abandonou o barco. O Corinthians era mais que completamente, a vida, a história e o amor de Neco.
Que na década de 20 viu seu próprio apogeu e encerramento. Mesmo na decadência Neco foi vitorioso. Depois foi técnico, quando o Futebol já era profissional.
Aquela turma de começo do século, que sempre procurou afastar o Povo do Futebol, agora trocava de fachada.
A A.A. das Palmeiras se diluiu em futebol pífio, e as senhorinhas do Paulistano não queriam ver seu patrimônio arriscado no profissionalismo, e, como conseqüência disso, perder o chá-da-cinco cotidiano.
A aventura da “liga amadora” foi custosa…
Nos manuais irá se encontrar o departamento de Futebol do Paulistano foi “encerrado”, mas não foi tanto assim, as pendências tinham que ser liquidadas; a questão é como. Mas isso é outra história.
E no ano de 1930, quando Schürig se elegeu Presidente, o Corinthians foi campeão e o Futebol Paulista se reunificava novamente. O profissionalismo de fato era o caminho buscado, realizado de fato apenas em 1933.
É em 30 que o primeiro Hino Corinthiano é composto.
Mas em 31 vários jogadores vão para a Itália. Tuffy, o primeiro goleiro a ser grande ídolo, vem a falecer. Aquele Timão se esfacela, e a Fiel amargará a primeira de suas muitas “filas”. Para os Corinthianos, “filas” são aqueles períodos para jejuar, pois para o Povo nada é fácil, e toda luta por mais inglória que possa parecer, pelo Corinthians é sempre gloriosa. São períodos em que transformamos o veneno das crises (reais ou plantadas) em antídoto contra essas próprias crises. E crise foi o que não faltou na década de 30.
E a História continua…
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¹ Segundo capítulo do livro “Corinthians, sua história, suas glórias”, página 26. Trata-se de uma coleção de fascículos lançados pelo Corinthians em meados de 1969, do 1º ao 8º, completando uma obra de cerca de 180 páginas.
²Assim eram chamados os jogadores que hoje chamamos volantes.
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O blog é sobre o Corinthians e eu sou chato pra caralho.