terça-feira, 9 de março de 2010

Per Aspera Ad Astra: A história do mais querido do mundo (Capítulo XVII)

“Per Aspera Ad Astra”
Por Filipe Martins
A década de 20 foi a conseqüência óbvia da luta dos Corinthianos para vencer um dragão por dia, a cada dia, na primeira década de vida do Corinthians.
Se o caminho trilhado foi o da superação completa e irrestrita, a década de 20 foi a consagração do Corinthians Paulista. O Corinthians se consolidou, nesta década considerada dourada; “Colheita gloriosa da semeadura feita, com amor (…) nos dez anos anteriores”¹…

Corinthians conquista o país, se nacionaliza. Na década de 20, o Coringão é falado no Brasil todo. Mas sem luta, nada seria.
Como no ano de 1915, em uma crise que parecia não ter fim e mesmo assim o Corinthians permaneceu invicto, em campo e nos corações.
E foi alijado da disputa oficial. Em 1916 deveria ter se sagrado tri-campeão invicto (nas três oportunidades, invicto!), não fosse a mesquinhez de uma rasteira de quem se considerava “dono da bola”.
Foi na década seguinte, portanto, que os frutos desse esforço conjunto ganhou corpo, saiu da idéia e aconteceu na realidade. O Corinthians mostrava a força de seu arrojo, tendo como cenário a Ponte Grande.

O Campeão do Centenário (e campeão entre os campeões no Brasil do ano de 22), o Corinthians veria a espinha dorsal Neco-Amílcar comandar a primeira década e o Bi-Campeonato de 22-23, apesar de ter de dividir os jogadores com a Seleção.
O segundo tri-campeonato (considerando desfeita a injustiça iníqua do ano de 1915) do Corinthians acontece naturalmente, sob a batuta de Guido Giacomelli e seus craques, mas em 1923, único ano que a Ponte Grande viu a Festa de comemoração de um campeonato, essa espinha dorsal é desfeita.

Grané chega ao Corinthians, compensando a ausência de Amílcar, e com Del Debbio fazem a melhor dupla de zaga que já se tinha tido notícia. De 25 a 27 o Corinthians passou resolvendo pendências, ajustando o time novamente.
Época de Gambarotta, apelidado Gamba, o artilheiro do Centenário. Que durante os anos de 26 a 28 jogou com seu irmão, o Gambinha. Os dois irmãos eram centroavantes, mas havia um terceiro, que figurava entre os reservas e era médio². Rato, Rodrigues, Tatu, Colombo, Tuffy. Guido, o presidente que era técnico.
E Neco, claro. Que em 1927 arrumou encrenca em um jogo contra a lusa e foi achincalhado pelos jornais. Não havia sido primeira, nem a última encrenca que Neco arrumara, mas o Corinthians “precisava” ter sua imagem pejorativamente tratada. Desde sempre.

A “liga amadora” necessitava de factóides para manter a versão do futebol “ilibado” que os clubes filiados a tal liga mantinham.
Com Neco fizeram o que fizeram também ao Pequeno Polegar, durante a década de 50; não o convocavam para a Seleção, pois representava o Corinthianismo demais.
Além disso, a Fazendinha é comprada, reformada, inaugurada, e logo no ano de inauguração do campo é coroada com mais um campeonato, em 28. O “Clube dos Carroceiros” se consagrava, com sua Sede e seu Timão.

Em 1929 Neco recebe a homenagem que pode ser contemplada nos jardins do Parque São Jorge.
Seu busto representa muito mais que o reconhecimento de tudo o que Manuel Nunes fez pelo Corinthians e pelo Futebol. É uma posição “política” dos associados do Corinthians Paulista, respondendo ao que se fazia da imagem deste Guerreiro, na época.
Da espinha dorsal, conta-se que Amilcar era o grande craque. Mas foi Neco quem teve a bravura de driblar quatro uruguaios e amaciar a bola para Friedenreich apenas rolar pra rede; o Brasil era pela primeira vez, campeão Sul-Americano.
Amílcar era o técnico, mas quem ficou reconhecido por aliar habilidade com espírito incomum de luta foi Neco. E quem jamais abandonou o Corinthians, foi Neco.

Em 1930 já encerrava a carreira, e ainda comemorou o terceiro Tri (1915!).
Em vinte anos de Vida e História, o Corinthians foi campeão nove vezes, todas as vezes com Neco. Sendo que os três primeiros anos de vida foram vividos na Várzea.
Corinthians, todos sabem,começou pequeno... Um Gigante que nasceu amparado por sua Torcida. E Neco começou na Torcida, foi ao Campo, depois permaneceu na Torcida. Jamais abandonou o barco. O Corinthians era mais que completamente, a vida, a história e o amor de Neco.
Que na década de 20 viu seu próprio apogeu e encerramento. Mesmo na decadência Neco foi vitorioso. Depois foi técnico, quando o Futebol já era profissional.
Aquela turma de começo do século, que sempre procurou afastar o Povo do Futebol, agora trocava de fachada.

A A.A. das Palmeiras se diluiu em futebol pífio, e as senhorinhas do Paulistano não queriam ver seu patrimônio arriscado no profissionalismo, e, como conseqüência disso, perder o chá-da-cinco cotidiano.
A aventura da “liga amadora” foi custosa…
Nos manuais irá  se encontrar o departamento de Futebol do Paulistano foi “encerrado”, mas não foi tanto assim, as pendências tinham que ser liquidadas; a questão é como. Mas isso é outra história.
E no ano de 1930, quando Schürig se elegeu Presidente, o Corinthians foi campeão e o Futebol Paulista se reunificava novamente. O profissionalismo de fato era o caminho buscado, realizado de fato apenas em 1933.

É em 30 que o primeiro Hino Corinthiano é composto.
Mas em 31 vários jogadores vão para a Itália. Tuffy, o primeiro goleiro a ser grande ídolo, vem a falecer. Aquele Timão se esfacela, e a Fiel amargará a primeira de suas muitas “filas”. Para os Corinthianos, “filas” são aqueles períodos para jejuar, pois para o Povo nada é fácil, e toda luta por mais inglória que possa parecer, pelo Corinthians é sempre gloriosa. São períodos em que transformamos o veneno das crises (reais ou plantadas) em antídoto contra essas próprias crises. E crise foi o que não faltou na década de 30.

E a História continua…

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¹ Segundo capítulo do livro “Corinthians, sua história, suas glórias”, página 26. Trata-se de uma coleção de fascículos lançados pelo Corinthians em meados de 1969, do 1º ao 8º, completando uma obra de cerca de 180 páginas.

²Assim eram chamados os jogadores que hoje chamamos volantes.

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