quarta-feira, 17 de março de 2010

Per Aspera Ad Astra: A história do mais querido do mundo (Parte XVIII)

O Time do Povo
Por Filipe Martins Gonçalves


Já corria o ano de 1931 quando o Corinthians Paulista se sagrou pela terceira (quarta!) vez Tri-Campeão, pelo campeonato de 30, na tradição que o nosso Futebol sempre teve de encerrar os campeonatos no ano seguinte.

No Brasil, a República Velha terminava com a Revolução de 30.
Com o fim da República Velha, os oligarcas paulistas perdiam poder político e econômico. A revolução liderada por Minas, Rio Grande do Sul e Paraíba teria uma resposta na malfadada Revolução Constitucionalista de 1932, que mexeu ainda mais com o brio dos Paulistas.
É importante notar que o que impulsionou de fato o golpe (é comum neste país chamar golpe de “Revolução”) foi o enfraquecimento financeiro desta oligarquia por conta da Crise de 29. As oligarquias de outras regiões, oportunamente, se lançaram à este golpe principalmente por conta desse enfraquecimento.

Enquanto o Corinthians era campeão, os clubes da elite perdiam força. Por aqui, aquela Liga Amadora, reconhecida pelo público como “marrom” (pois os jogadores eram aliciados mediante grana, e nada menos que isso), mas que a imprensa da época se costumou a “preferir”, se via em gravíssima crise financeira, da mesma forma que o próprio Paulistano, ele que era o mantenedor e campeão constante da Liga.
O Futebol pretendia acabar com o falso amadorismo de vez. E tentava caminhar na direção do profissionalismo.

A APEA, reunificando o Futebol Paulista após o Paulistano e a A.A. Palmeiras se extingüirem, assistia o Corinthians Tri-Campeão, goleando o Santos por 5 a 2 em plena Baixada.

Mas esse episódio deveria ficar mais claro, pois não são fatos isolados que se articularam para culminar nesta “solução” que trataremos com a máxima brevidade devida.
Pois a A.A.Palmeiras, na verdade, sofreu uma falência, tendo sido socorrida pelo pessoal do Paulistano, que por sua vez foram destituídos de clube pela própria direção, que resolvera acabar com o departamento de Futebol – por não aceitar o falso amadorismo, como é a versão oficial.

E então buscamos o passado do resultado da fusão entre estas duas “entidades”, e chegamos à criação de um clube que surgia para se tornar, além do time novo daquela elite quase falida, bambeante, que precisava agradar Getúlio para se manter no status quo, também uma espécie de estandarte do novo Futebol que se pretendia oficializar profissional.
Era o clube dos políticos e editores de jornal. Encomendaram a um estilista a confecção tanto do uniforme quanto do distintivo (sic), e jogaram o primeiro campeonato no ano em que o Corinthians sagrava-se Tri-Campeão. Começaram sendo vices do Coringão.
Em breve voltaremos a esse assunto.

Em 1931 os Corinthianos viam o time desmontar. Jogadores receberam proposta do futebol profissional italiano e aceitaram a oferta. Não havia como o Corinthians segurá-los. Eles não ganhavam nada no Corinthians, a não ser o carinho do povo.
E por causa deste carinho é que ganhavam também muitos campeonatos.
Mas no Corinthians, diferente de quase todos os clubes da época, os jogadores só ganhariam o bicho da vitória, uma comemoração com chopp à vontade, e teriam de trabalhar como todo mundo no dia seguinte.

Os quatro jogadores que foram ganhar a Italia foram De Maria (goleador que fez o primeiro gol da Fazendinha), Del Debbio (o melhor zagueiro da época, recordista em número de títulos pelo Corinthians), Filó (companheiro de Friedenreich no clube que se extinguira, e veio para o Corinthians) e Rato (o “antepassado” do Luizinho Pequeno Polegar, irreverente driblador, que havia jogado uma década pelo Clube do Povo e sido duas vezes Tri).
E a Fiel perdia Tuffy, o primeiro goleiro ídolo, antepassado de Gilmar e Ronaldo. O baque não foi pouco em 31, o Corinthians terminou o ano na metade da tabela, e a Torcida via os empregos escassearem, as melhorias na Fazendinha tardarem, e mesmo com Schürig na presidência, a crise foi feia.

O time que demorou a ser montado na década passada era desmontado, nisso que parece ser uma sina Corinthiana desde sua origem – a Várzea.
E com o profissionalismo em vista, a administração do Clube tomaria literal surra até entrar nos “eixos” que estavam em voga.
Alfredo Schürig, na história da Presidência Corinthiana, é uma transição daquele tipo de presidente “mediador de assembléia” (como era Alexandre Magnani, Ricardo Oliveira, J.B.Maurício, Ernesto Cassano, por exemplo) para os “solucionadores” (Schürig, Correcher e, posteriormente, Alfredo Ignácio Trindade).
Era um tipo cartola ao estilo mecenas, que não tirava nada do Clube, não visava coisa alguma a não ser a paixão, um “paizão”, enfim, ele não resiste à crise Corinthiana de 1933. E com ele se vai toda a diretoria.
José Martins Costa assume numa crise que parecia sem fim, e termina por se demitir do cargo em pouco mais de um ano.
O time, então, demorou a engrenar novamente. Chegava para a zaga Jaú, para a ponta direita Lopes, Jango era o médio-direito. Teleco chega em 1934. Brandão, em 1935, ano em que Teleco é artilheiro pela primeira vez.

Enquanto isso, aquela fachada inaugurada no começo da década se via em mais uma falência enquanto era vice do então chamado Palestra Italia.
E o Futebol Paulista, nominalmente profissional desde 1933, assistia à sua terceira cisão.

A História Continua…

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