quarta-feira, 30 de junho de 2010

Per Aspera Ad Astra: A história do mais querido do mundo (Parte XXII)

"Per Aspera Ad Astra"
O Time do Povo

Por Filipe Martins Gonçalves

Alguns meses após sagrar-se Tri-Campeão Paulista pela terceira (quarta!) vez, o Corinthians estava inaugurando o que então era o maior estádio da América Latina - o Pacaembu. Foi em abril de 1940.
O primeiro Corinthiano a colocar uma bola na rede foi ninguém mais que Servílio, logo aos 4 minutos do jogo contra o Atlético Mineiro. O jogo terminou 4 a 2 para o Coringão, e foi o começo da História deste que é o Templo Sagrado do Futebol Paulista.

Em agosto daquele ano aconteceu o último Corinthiansversus Palestra na Fazendinha.
O resultado foi 2 a 0 para o Coringão, mas o que ficou para a História foi o galo todo pintado de verde, que algum palestrino jogou no campo no começo da partida. No Memorial, já desbotadas, jazem duas penas daquela tarde em que o galo verde foi depenado... Nesta mesma época chegava ao Corinthians o médio-esquerdo Dino, que entrou na Galeria dos Grande Ídolos pela sua raça e técnica apurada.

Mas os anos 40 começaram turbulentos no cenário mundial.
Na Alemanha de Hitler, o nazismo levava a termo a intenção de conquistas, trazendo ao mundo incertezas e graves desfechos.
O Brasil de Getúlio Vargas fingia aguardar o que aconteceria, e até acenou positivamente ao eixo. Porém, quando a guerra foi declarada, a aliança com os Estados Unidos foi assinada.
Curiosamente, nesse mesmo dia (28/4/40) o Corinthiansinaugarava o Pacaembu...

Uma bizarra lei federal deste mesmo ano impedia que estrangeiros presidissem clubes esportivos.
Por não especificar a qual "estrangeiro" se referia a lei, o caráter integralista tinha "endereço certo". A falsa intenção de "proteger" o que não era "alienígena" (segundo os termos dos próprios integralistas) não escondia a razão real daquilo.
A maioria dos clubes populares possuía um presidente estrangeiro e o cenário futebolístico era dominado completamente por estes clubes.

A lenda era a de que Corinthians e Palestra poderiam tirar um cara-ou-corôa no começo dos campeonatos, para decidirem quem seria o campeão.
Ao clube que representava a elite integralista e oportunista, restava esperar que a moeda caísse em pé...

O oportunismo daquela associação, que falia e sempre precisou de ajudas (veja no Capítulo XXI desta série) fez com que Getúlio, maldito pela elite paulista na década anterior, fosse aclamado por aquela claque.
O caudilho brasileiro era louvado porque o Governo Federal já interferia no Futebol, através da Diretoria de Esportes...

E aquela associação via no episódio uma chance de interferir no destino do Corinthians, que já era o maior Clube Brasileiro com apenas 30 anos de existência e representava, em sua totalidade, o Povo.
Aquela associação tentava agir, nem que fosse debaixo dos panos, "herdeira" direta que era daqueles que teciam as armadilhas que eram sempre sobrepujadas pelo Clube do Povo.

O Futebol é coisa pública. Tudo o que é público é político, e o uso político do Futebol ficava cada vez mais claro, à medida em que a Diretoria de Esportes paulista cumpria as ordens federais.
Antes mesmo de a Liga passar a ser Federação Paulista de Futebol, a Diretoria de Esportes decretava a intervenção noCorinthians, em 4 de janeiro de 1941.

Manuel Correcher ficava impedido de presidir o Clube por ser espanhol. A Espanha era país simpatizante do Eixo e o Brasil, conseqüentemente, era "inimigo" político do Eixo...
Eis então a "deixa" para destituí-lo, tentando enfraquecer o Clube do Povo a partir de sua soberania.
Mas o Corinthians sempre usou o veneno das crises e do anticorintianismo como antídoto, para sobrepujar as crises e o próprio anticorintianismo.
A Diretoria de Esportes do Estado nomeou um interventor, que não chegou sequer a presidir o Clube.
O Conselho Deliberativo, ao receber o decreto de intervenção, se dissolveu. Dessa forma não havia Conselho ou Diretoria.

Para pacificar o Clube era necessário constituir novo Conselho e nova Diretoria, devidamente eleitos pelo corpo associativo. Dessa forma, o interventor (Capitão Aírton Salgueiro de Freitas), nomeado pela Diretoria de Esportes do Estado de São Paulo, sai de cena, e um civil assume a presidência como "delegado interventor".
Eleito o Conselho, este delegado também sai de cena. Pedro de Sousa é eleito presidente pelo corpo associativo (como candidato único e imposto pela Diretoria de Esportes estadual, frise-se), e uma nova Diretoria é constituída. Tudo isso em pouco mais de um mês.

É importante notar a falta de cálculo estratégico e político nesta nova armadilha que se impunha ao Clube do Povo.
Corinthians, que havia sido o santuário da bandeira paulista em 1937 (pois ela jamais foi retirada de nosso distintivo), durante a tomada de poder pelo chamado Estado Novo, teve a salvaguarda de associados Corinthianos de dentro do Exército Brasileiro.

Nessa época o Tiro de Guerra Corinthiano formava soldados, fazendo do Corinthians uma Escola de Civismo.
Corinthians, sendo o próprio Povo, sempre foi salvaguardado, em todas as instâncias.

Notemos também que, antes de o Germânia ser obrigado a virar Pinheiros e do Palestra virar Palmeiras, a Diretoria de Esportes foi intervir no maior de todos os Clubes - e quebrou a cara.
Justamente porque o Clube era o Corinthians.

Com crise ou sem crise, o Corinthians é o Campeão naquele ano de 1941, e de quebra tem Teleco como Artilheiro do campeonato.

E no ano seguinte, em 42, Milani é o artilheiro, com oCorinthians sendo Vice de uma forma curiosa.
O maior rival Corinthiano, o Palestra, se viu em situação semelhante a esta que aconteceu ao Corinthians em 41 descrita acima.
Com o agravante de que este mesmo pessoal que tentara roubar a soberania do Corinthians dentro do próprio Clube, agora queria roubar o patrimônio do Palestra.
Atitude mais que duvidosa, pois os rivais tomam as suas atitudes no tempo certo, e de quebra dão uma lição que esse pessoal finge que esquece.
Ocorre que este time que "representa" esse pessoal fugiu de campo (aos 21 minutos do segundo tempo), pois a derrota era mais que certa.
Entregam assim, de bandeja, um título a este rival, além de passarem vergonha por não lutar, conforme o Futebol exige.
Importante frisar que a Diretoria Corinthiana, encabeçada pelo jovem Vicente Matheus, assegura todo apoio ao rival por compreender o que estava se passando. Foi por conta disso que o Palestra mudou de nome.

É deste ano de 1942 o título de Campeão dos Campeões.
Foi o embrião do Rio-S.Paulo, e se enfrentariam em um quadrangular os Campeões e Vice-Campeões do Rio e de São Paulo.
Corinthians, o já então denominado Palmeiras, Flamengo e Fluminense, disputariam o campeonato.
Aquele pessoal, porém, conseguiu enxertar de última hora na disputa aquela associação que costuma falir.
Só que quem leva a Taça é o Corinthians, batendo o rival verde por 4 a 1.

No ano seguinte, Milani é novamente o artilheiro do campeonato, e mais uma vez o Corinthians é Vice.
A história de 42 se repetiu e o Campeonato foi decidido em um último jogo entre o time daquele pessoal e os rivais verdes.
Os rivais verdes, porém, não conseguiram sair do empate em 0 a 0, e uma pequena claque exibiu, tardiamente, uma moedinha "em pé".

Corinthians, então, via surgir uma nova geração. Os aspirantes surgiam, craques do naipe de Luizinho Pequeno Polegar e Roberto Belangero. E o Corinthians, ainda que fosse jejuar por mais dez anos até que fosse novamente campeão, fez a maioria dos artilheiros na década (Servílio, por três vezes consecutivas, em 45, 46 e 47, fora os artilheiros já citados), conquistou os torneios preparatórios, e reestruturou-se politicamente, assimilando o golpe de 1941, e o sobrepujando.
Manuel Domingos Corrêa é eleito, em disputa entre chapas criadas pelos Associados, já em 41. Em 44, Alfredo Ignácio Trindade é eleito. A crise amainava.
Lourenço Fló Junior sucede Trindade, entre 47 e 48.

E então Trindade retorna à Presidência, já em 1949.

A História Continua...

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