Per Aspera Ad Astra: A história do mais querido do mundo (Parte XXIII)
"Per Aspera Ad Astra"
O Time do Povo
Por Filipe Martins Gonçalves
Mas antes mesmo dele assumir a Presidência, como dizíamos, os Corinthianos começavam a cativar os juvenis, que faziam as preliminares no Pacembu, antes do Time principal. Ali começaram Cabeção, Belangero, Luizinho, Luís Carlos, e tantos outros, a fazerem parte do Coração da Fiel Torcida.
A Torcida, aliás, se acostumou a chegar bem cedo apenas para ver os juvenis. Esses juvenis, na década seguinte, fariam parte de um dos maiores, melhores e mais vencedores esquadrões do Corinthians Paulista.
Mas antes mesmo disto tudo, o Basquete fazia história. Depois de alguns anos trabalhando forte a base, assim como o Futebol, aqueles garotos se tornariam campeões em 46, e nos anos seguintes, seguidamente.
A Natação fazia história. E em todos os esportes que praticavam, os Corinthianos se destacavam. Graças à Cidade dentro da Cidade; a Cidade Corinthians.
Que se expandiu, para a outra margem da Rua São Jorge, em 1945. E nesta expansão, planejou-se um Ginásio, para abrigar o Basquete.
O Corinthians crescia, junto com o seu Povo. A década de 1940 foi de fortalecimento não apenas do ponto de vista material e estrutural do Clube. A Torcida, que já era gigantesca, criava suas tradições próprias para idolatrar aCamisa do Corinthians em campo e fora dele. OCorinthians nunca foi sozinho a lugar nenhum; sempre esteve presente com ele a sua Multidão.
Numa época em que o Futebol era popular "do gorrinho à ponta da chuteira", era comum ver relatos como este, que segue. É parte integrante do Livro "CORINTHIANS, sua História, suas Glórias", de 1969, em seu terceiro fascículo, nas páginas 59 e 60. Trata-se de uma compilação de periódicos da época, impressos pela Teivanir Ribeiro, editôra e publicidade, e comercializados no Parque São Jorge, exclusivamente. Transcrito do original, com a grafia original.
Recordações em tempo de Caravana
De Pedro Ortiz Filho
As Caravanas que ontem, como hoje, acompanham oCORINTHIANS onde quer que ele vá, merecem um capítulo à parte. Bulhentas, álacres, ordeiras, entusiasmam cidades. Com seus gritos de "guerra" estimulam os próprios torcedores do clube local a que compareçam ao estádio. Se o resultado é adverso, retornam ordeiramente. Se voltam com a vitória, cantam e dançam felizes. Êste episódio que PEDRO ORTIZ FILHO publicou na revista "CORINTHIANS", é altamente evocativo e vale como prova do que é, em todo o Brasil, o "Corinthianismo". E de como, muitas vêzes, êle realiza milagres.
"Naqueles tempos, não havia a Cometa, não! Era de trem. Lembram-se das nossas caravanas? Que multidão! Eram precisos vagões e mais vagões para conduzir aquêle pôvo! Saíamos às 4 ou 5 horas da manhã. Quando as "Marias Fumaças" davam conta do recado, chegávamos normalmente a Santos. Primeiro, a praia. Depois, o banho de mar, os aperitivos, as ostras. Após uma boa peixada. E rumo à Vila Belmiro, ao Macuco, ou ao campo da "Briosa". Normalmente era aquêle "bruto" calor, somado ao calor do próprio jôgo. Terminada a partida, a correria para apanhar o melhor lugar no trem. Interessante! Todo aquêle atropêlo, aquela luta acirrada para conseguir onde sentar, para, depois, fazer a viagem em pé, pulando, andando de vagão em vagão. De permeio, nas paradas, o cafèzinho e os pastéis, nos bares das estações.
Chegávamos, enfim, ao Brás ou à Luz, cansados, esgotados, cabeça a arder, parecendo que ia estourar. A garganta, dolorida, a voz, rouca. Também, pudera! Toda aquela torcida durante o jôgo, os cantos de guerra e de euforia! É verdade, nem sempre vínhamos de todo contentes. Uma ou outra vez perdíamos o jôgo! Oh, então a viagem de volta parecia interminável! Não chegava nunca ao fim! Viajávamos cabisbaixos, aborrecidos. Aí, então, a cabeça e a garganta doíam mais. Mas tudo passava. Tôda aquela gente tinha um só sentimento: "Uma vez Corinthians, sempre Corinthians!"
Mas se no domingo seguinte houvesse outro jôgo em Santos, aquela massa, aquela avalanche desceria novamente a Serra. Tempos ruins, porém, foram aquêles durante a guerra. Racionamento! Racionamento de tudo. Até de vagões! De 12 ou 15 necessários às nossas Caravanas, a muito custo conseguíamos 6 ou 8, no máximo. Limitava-se o número de passageiros. Que luta para se conseguir um lugar! Como sofriam os seus organizadores para poderem atender a todos. Mas sempre havia um lugarzinho. A viagem de volta era com as luzes apagadas por causa do "black-out".
Uma vez, porém, eu e outros sobramos. Não houve jeito de seguir de trem especial. Que fazer? A ordem era esperar o trem de carreira. Então alguém lembrou: "Vamos de carro?" Era uma boa sugestão. Mas, àquela hora, eram poucos os "táxis" no ponto. Consultamos: "Por quanto nos leva?" "Sabe - era a resposta - a gasolina está racionada, cara. É tanto!" Um absurdo! Fazíamos as contas para o "racha". Não dava! Já estávamos desconsolados, quando encostou outro "táxi". Os motoristas gritaram: "Êste vai até no peito"! Incontinenti, chamaram: "Pé de ganso, êste pessoal quer ver oCORINTHIANS em Santos".
A resposta veio sem mais delongas: "Subam! Depois nóis acerta." E lá seguimos rumo à cidade de Brás Cubas. O programa foi o de praxe: praia, com sol forte como nunca. A areia parecia um brazeiro. Após o banho de mar, os costumeiros aperitivos, acompanhados de escolhidas ostras, uma boa mariscada. E pronto, rumo à Vila Belmiro! Aí começavam os temores quanto ao resultado da partida. A nossa torcida, como sempre, presente. Veio o jôgo. Que jogão! Vencemos. Que euforia! Que explosão! Mais calmos, condução à porta, como grandes senhores, "gozamos" a torcida contrária. E logo iniciamos a volta.
Era- não sei se já disse - a minha primeira viagem de carro a Santos. Que surprêsa me estava reservada! Aquêle cortejo de carros assustou-me. O buzinar dos carros, as bandeirolas acenadas, todo um espetáculo inédito para mim. A muito custo fizemos a reta do Cubatão. Aí surgiu um imprevisto. Como já disse, o Brasil estava em "estado de guerra" e ali havia o pôsto de contrôle. Quem não tivesse documento de identidade ficava retido. Eu não levara nenhum documento que comprovasse a minha. As autoridades eram inflexíveis. Os homens eram "duros" mesmo! Afinal, apontaram-nos o "chefão". Só êle, sòmente êle, poderia decidir a nossa sorte. Fomos até lá. Um "montão" de gente nas mesmas condições.
O chefão explicava: "É a lei, o regulamento. Ordens são ordens. Eu sòmente as cumpro! Não me queiram mal por isso!" Já estávamos meio desanimados quando um dos presentes pediu licença e falou por todos nós. Explicou que éramos um grupo de desportistas que haviam ido à Santos para assistir um jôgo. Na pressa, esquecêramos os documentos. Compreendíamos, perfeitamente, a necessidade daquela precaução. Mas éramos todos brasileiros, e dos bons! Se algum estrangeiro ali estivesse, merecia confiança! Na verdade, não estávamos, de todo, sem documentos. Trazíamos uma carteira: a de sócios do Sport Club Corinthians Paulista.
"Ah! - exclamou o chefão - do Corinthians?!" Êle conhecia: "é o clube mais brasileiro do Brasil. O clube da mais genuína brasilidade." A exaltação continuou nesse tom. "Todos pertencem ao Corinthians?" Houve um momento de "suspense". Então a voz firme, serena, do "chefão", se fêz ouvir:
"Aqui, em coluna de um. Com a carteira do Corinthians na mão. E podem ir passando. Passem! Passem todos!" Imediatamente o grupo se reuniu. Deu um "hip! hip! urra!" ao chefão, que terminou com vibrante "Salve o Corinthians! Viva o Brasil!"
AQUI É CORINTHIANS!!!
A História Continua...
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O blog é sobre o Corinthians e eu sou chato pra caralho.