segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Per Aspera Ad Astra: A história do mais querido do mundo (Parte XXXIV)

O Time do Povo
Por Filipe Martins Gonçalves

Na esteira do Brasileirão conquistado em 1990, da forma mais Corinthiana possível, o Corinthians começava a década em crise financeira, o que de fato nunca foi empecilho nenhum para o Clube do Povo.

Em 1991, com a conquista do SuperCampeonato Brasileiro diante do Flamengo, que havia levado a Copa do Brasil em 90, novamente com gol de Neto, veio a desclassificação na Libertadores. No jogo de volta, um empate diante do Boca Junior, com falhas de Guinei e a velha ajuda do apito quando se deu o jogo de ida, na Argentina. Um mês depois, no tapetão, o Corinthians foi desclassificado injustamente; a CBF entregava a vaga que era do Povo para o Fluminense, mesmo que este não tivesse jogado para fazer valer. De tudo fizeram para barrar aquele time guerreiro e operário, mesmo que em crise. Isso acarretou na queda de Nelsinho. Carlos Alberto Silva comandou três partidas antes de Cilinho assumir o time.

Neste ano ainda, Vicente Matheus não poderia concorrer a mais uma reeleição. Seguiu a idéia de conselheiros, e colocou a esposa na disputa. Assim, Marlene Colla Matheus alçaria a presidência do Corinthians, pela maioria de votos dos associados. Pela primeira vez na história do Futebol brasileiro, uma mulher encabeçaria um Clube. Por mais que a alma presente fosse a de Vicente, Marlene representou de sua forma uma quebra nos paradigmas patronais da bola. Só podia ser no Corinthians.

No segundo semestre daquele ano, antes que fizéssemos a final do Paulista com o São Paulo, que a exemplo do Fluminense era colocado, onde só poderia estar pelas mãos benévolas daqueles que detinham o poder e segundo as suas tabelas mágicas, aconteceu o episódio que simboliza exatamente o que sentia o Corinthiano naquele momento. E começa a história que iria acabar em 1993 da forma mais funesta possível. Mas, aos fatos; Neto estava no auge, já era um eterno xodó da Fiel, mas ele tinha algumas dificuldades com o técnico Cilinho. Quando chegou a tarde de 13 de outubro, o débâcle aconteceu. O árbitro Aparecido, que havia invertido faltas durante a partida, mostrou direto o vermelho, quando o esquentado Neto fez uma falta mais dura. Neto não levou o desaforo para casa, o manteve ali. Cuspiu na cara do Aparecido, que por mais que merecesse, não poderia ter levado. E pagou muito caro por isso. Mas mesmo sem seu Camisa 10, o Corinthians manteve-se invicto até a Final, quando foi derrotado pela madame naquelas raras vezes que isso acontece.

Em 92 a velha Fazendinha é reaberta, e lota na vitória Corinthiana diante do América de Natal por 3 a 0. Mas nesse ano, além do retorno discreto do ídolo Neto, e de Viola, fazendo dois em sua volta, dos primeiros amistosos no Japão, o grande lateral direito Giba se machuca. Mesmo com seus talismãs, Tupãzinho e Wilson Mano, o Corinthians termina em terceiro, mesmo vencendo o vice, o Palmeiras, que já era Parmalat. Com esta parceria, que causou alvoroço no Futebol brasileiro, começa definitivamente a era moderna do nosso Futebol. O capital estrangeiro já não tinha fronteiras. No Brasil, os empresários do Futebol aproveitavam a deixa, e as leis no esporte deveriam começar a mudar. Mas enquanto isso acontecia, o cidadão não se informou, não se instruiu, e aquele processo começava a voltar-se contra a Arquibancada. Passou a contar com os meios de comunicação, e começa então o embrião de uma nova elitização no Futebol.

Em 1993, Alberto Dualib, antigo diretor de Futebol e até então aliado de Vicente, na qualidade de presidente do Conselho, decide não ratificar a candidatura e reeleição de Marlene, e é ele mesmo eleito Presidente do Corinthians. E nesse processo embrionário de altas negociações no Futebol, ele colocou o Corinthians no patamar da sobrevivência a tantos desafios e modernizações. Passou a olhar com mais cuidado para as bases, o que trouxe Zé Elias e Silvinho, num primeiro momento ainda muito incipiente. Trouxe de volta o técnico Nelsinho. E, com Neto, a dupla Paulo Sérgio e Viola alegrava a Família Corinthiana no Pacaembu. Chegamos à Final do Paulista contra a Parmalat. De forma Corinthiana vencemos o primeiro jogo. Mas no segundo jogo, o desespero pelo fim da fila falou mais alto no bolso do estrangeiro. Falávamos do final funesto de Aparecido, ainda em 91, pois foi este o desfecho. Assim como o Fluminense, o São Paulo, e outros, Aparecido foi colocado para apitar aquele último jogo de uma hora para outra. Na verdade, de última hora. Foi um aviso para o próprio Timão do que estaria por vir. E, expulsando peças-chave, e novamente invertendo faltas, como fez em 91, além de fazer vista grossa para as faltas adversárias, que eram piores que as que causaram as expulsões Corinthianas logo nos primeiros minutos de jogo, Aparecido fez seu serviço, tirando leite não de pedra, mas da lavagem...

Para o Rio-S.Paulo daquele ano, Dualib trouxe todo o Carrossel Caipira do Mogi Mirim; Leto, Válber, Admílson e Rivaldo. Novamente, nas Finais, contra o rival de verde e de leite. Mas no primeiro jogo, o grande craque Edmundo fez a diferença. Precisando vencer por dois gols o segundo jogo, o Coringão não saiu do zero a zero. Caía Nelsinho, novamente. E Mário Sérgio Pontes de Paiva é trazido para comandar o Timão.

E mesmo que jogasse o fino do bola, e se mantendo invicto no Brasileiro, sofrendo apenas uma derrota, quem vai à final é justamente o time que o derrotou, na Bahia. Mas o fim do campeonato, apesar de melancólico, demonstrou a Raça Corinthiana, quando no último jogo o grande goleiro Ronaldo foi expulso. Com o lateral esquerdo Elias no gol, e com gols de Rivaldo e Viola, o Corinthians vira sobre o Santos e se despede daquele ano com vitória.

No ano seguinte, a velha reformulação. Mário Sérgio é injustamente mandado embora, e parte do Carrossel Caipira, que havia sido emprestado, é negociado pelos empresários com o capital estrangeiro. Rivaldo permanece, Marques e Silvinho surgem da base, ao mesmo tempo em que Marcelinho é trazido do Flamengo. Após uma dança de técnicos entre Afrânio Riul e Eduardo Amorim, Carlos Alberto Silva volta ao Corinthians. E o Corinthians faz nova excursão pelo Japão, mas não pôde realizar o terceiro jogo, por causa de um ofício da Federação Paulista. Ganhamos a Copa Bandeirantes, que nos credenciava à Copa do Brasil em 95, sobre o Santos, um seis a três mais que histórico, e um empate em um a um. Fomos mal no Paulistão, mas bem no Brasileiro. Mas Rivaldo, que havia sido transferido para o exterior e fora colocado pelo capital estrangeiro no time da Parmalat, resolveu acabar com os dois jogos finais.

E finalmente começou 1995. Depois de duas décadas e meia sem ser campeão, o Coringão fatura a Taça São Paulo, campeonato de juniores que sempre rendeu alegria à Fiel. O Carnaval no começo de ano foi completo, quando os Gaviões da Fiel, e Coisa Boa é Para Sempre, desfilam para serem Campeões do Carnaval. Em maio, nas semifinais da Copa do Brasil, uma goleada acachapante sobre o Vasco, com direito ao centésimo gol de Viola pelo Timão, além da melhor atuação de sua carreira. Um cinco a zero inesquecível. Na Final, dois a um no Pacaembu e aquele gol de Marcelinho no Olímpico. Campeão da Copa do Brasil!

Para nos classificarmos à Final do Paulista, contra o time da Parmalat, precisávamos vencer a Portuguesa e o Santos. E o empate contra a Lusa se desenhava, a classificação estava a cada segundo mais distante, quando Zé Elias sofreu falta aos 44 do segundo tempo. Bernardo cabeceou a bola levantada na área, o Coringão ensacou o Santos num emocionante quatro a dois. Vale lembrar que os Clássicos decisivos passaram a ser realizados no interior, por conta da propagada violência, mas isso nem de longe comprometeu a Festa nas Arquibancadas. Na Final em Ribeirão Preto, dois empates no tempo regulamentar, com gols inesquecíveis de Marcelinho, e na prorrogação o golaço de Elivélton consumava um dos anos mais Corinthianos já vividos. Quem não se lembra?

O ano de 1996 começou em março, um cinco a zero sobre a freguesia, em Ribeirão Preto, que se provava um palco de Festas Corinthianas. Edmundo marcou dois gols neste dia. E conquistamos o Torneio Ramon de Carranza, vencendo o Cádiz e o Bétis na Final. E Dualib sinalizava a primeira parceria do Corinthians com empresa, que consistia em buscar reforços, valorizá-los e vendê-los. O Corinthians entra de cabeça na era moderna do Futebol, e desenha conquistas para os anos seguintes. Edílson chega ao Parque São Jorge, assim como Rincón. Mas o Corinthians foi desclassificado na Copa do Brasil, diante do Remo, e mesmo vencendo o Grêmio no Olímpico, saiu da Libertadores melancolicamente. Antes de encerrar o ano, porém, Neto volta ao Corinthians.

Em 1997, com a parceria, nomes de peso são trazidos. E no Paulistão daquele ano, com muito brilho, vencendo Palmeiras e Santos, e empatando com o São Paulo, levou mais uma vez o caneco. Antes de vir o título, porém, uma semana ficou marcada na história. Antes de fazer o jogo de volta contra o Atlético Paranaense, precisando vencer por mais de dois gols, o Coringão enfrentou o Palmeiras e sapecou um cinco a dois, no sábado. Na quarta, viajou a Curitiba e enfiou seis a dois. Foi a semana de Donizete, Mirandinha e Marcelinho. Mas o Brasileiro foi uma dificuldade, chegamos à última rodada precisando da vitória, diante do Goiás no Serra Dourada, para permanecer na divisão principal. Sapecamos dois a zero e nos livramos do fantasma...

Para 1998 são trazidos mais medalhões. Gamarra, o melhor zagueiro do mundo, que ficaria 724 minutos sem cometer uma falta. Vampeta, um combatente no meio-campo que limpava a jogada e saía para o jogo com facilidade. Ricardinho, um cérebro pensante na armação de jogadas. Com a base revelando Edu e Kleber, o Corinthians montava um Timão que dava show de bola e ao mesmo tempo era raçudo, sob o comando de Vanderlei Luxemburgo. Combinação perfeita. Na semifinal do Paulista, contra a Portuguesa, o juiz não anotou o impedimento do jogador lusitano, mas o empate levou o Corinthians à Final. E naquelas raríssimas vezes em que o poste faz xixi no cachorro, fomos vice diante da freguesia preferencial. E com uma campanha quase impecável no Brasileiro, batemos o Cruzeiro em três jogos. Dois empates e uma grandiosa vitória, quando Dinei serviu os companheiros, e da maneira mais Corinthiana conquistamos mais uma vez o Brasil.

O ano de 1999 começou com os Gaviões Campeões no Carnaval, e com mais uma daquelas parcerias. A Traffic, principal expoente do que gerou aquele processo anteriormente mencionado, intermediou o acordo entre o Corinthians e a HMTF, grupo de investidores que estavam pela América Latina. A base do Timão conquistava mais uma Taça São Paulo de juniores, e o Coringão viveria fortes emoções. Na Libertadores, o duelo com o rival de verde fez a cidade parar. Primeiro jogo, vitória do rival por dois a zero, placar devolvido no segundo jogo. E a sorte pendeu para o inimigo, quando Dinei chutou na trave, e Vampeta foi parado por Marcos; 3 a 4 nos pênaltis... Mas como Galo de Briga tem que começar cantando em casa, ainda naquele mês de maio enfiamos cinco a um no Santos. Depois, na semifinal do Paulista, quatro a zero no São Paulo. E no primeiro jogo da Final, três a zero no Palmeiras. No segundo jogo, precisando vencer por muitos gols, o rival viu o Corinthians empatar a partida, pelos pés de Edílson. Eis que o Capeta resolve fazer deliciosas embaixadinhas, e mostrar que aqui quem manda é o Corinthians... Quem não se lembra disso tudo?

E no Brasileirão daquele ano, colocamos a madame no chinelo. Chegávamos à semifinal contra elas, sob o comando de Oswaldo de Oliveira. Tinham colocado até o irmão caçula do Doutor, que havia conseguido uma das raras derrotas do Corinthians em jogos decisivos contra esta instituição, que mencionamos anteriormente. E o Corinthians confirma a supremacia sobre esta freguesia, fazendo três a dois no começo do segundo tempo. Eis que madame é agraciada com dois pênaltis, e poderia ter até virado jogo, não fosse o Corinthians que estivesse ali. Mas Dida defendeu as duas. Quem não se lembra? No segundo jogo, Edílson dá show e descontrola a freguesia, que fica com o espinho atravessado na garganta.

E liderando o campeonato de ponta a ponta pelo segundo ano consecutivo, o Coringão chega à Final contra o Atlético Mineiro. No primeiro jogo, Guilherme marca três gols no primeiro tempo. Mas Vampeta acha um golzinho antes do intervalo, e Luizão deixa o dele. Resultado ótimo, até porque eram três jogos, e a vantagem era nossa. No segundo jogo Luizão faz dois, um em cada tempo, garante de vez a vantagem, e numa quarta-feira à noite o Coringão empata sem gols, sagrando-se Bi-Campeão Brasileiro, com uma regularidade fantástica.

Eis que a FIFA resolve arrumar essa coisa de jogo intercontinental valer título de campeão do mundo e realiza, no Brasil, o Primeiro Campeonato Mundial FIFA. E como acontecerá em todas as competições da FIFA, o país-sede recebe uma vaga. Toda a organização se deu com o decorrer do ano de 1999, de forma que o representante sul-americano seria o Campeão de 1998, no caso o Vasco, o representante europeu seria o Real Madrid, que vencera o Vasco em um desses jogos que se fazia, neste mesmo ano. E todos os participantes eram campeões de seus terreiros. Mas o Galo de Briga da Várzea que é o Corinthians era Bi-Campeão Brasileiro. O país-sede, no caso, era o terreiro do Coringão. E com essa humilde vaguinha, e com um Timão que jogava muita bola, mesmo sem ter tido férias, enfiando bola debaixo da perna de gringo, o Coringão chegou ao Maior do Mundo nos braços de vinte e cinco mil Corinthianos, naquelas Arquibancadas sagradas. Mais uma Invasão Corinthiana, mas só porque só deram vinte e cinco. Tivessem dado quarenta, tinha quarenta mil. E foi ali que o CORINTHIANS veio a ser Campeão do Mundo...

A História continua...

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