terça-feira, 27 de outubro de 2009

Per Aspera Ad Astra: A história do mais querido do mundo (Capítulo II)

O Time do Povo

Por Filipe Martins Gonçalves, Corinthiano de 4ª Geração.
 
A receptividade do primeiro texto superou as expectativas, e acho que podemos nos enveredar por um caminho para além da própria história factual, antes de irmos por ela. Concordam?
A idéia é resgatar não apenas o que aconteceu ao Corinthians, ou mais ainda, como o Corinthians fez acontecer.
Seria tentar alcançar o que é o Corinthians em sua perspectiva primordial. O Corinthians que imaginavam os operários sob o brilho fulgurante do Cometa, naquele mês de maio, no areal do Bom Retiro. Afinal, o Corinthians transcende o campo, a quadra, o jogo.
Cada um de nós levamos conosco o Corinthians, para onde formos. Essa transcendência, portanto, é o que buscaremos nesta coluna.
Vamos, então, ao cerne do assunto.
Temos que retornar àquela reunião, depois do dia primeiro, provavelmente no dia cinco, ou no feriado da pátria, enfim.
Não saberemos ao certo, pois o documento, a primeira ata, se perdeu. A única diferença que isso faz, no entanto, é que nunca saberemos o que disseram. Por isso, devemos ouvir o que ficou dito pelos ancestrais.
Ficou para sempre a frase de Miguel Bataglia.
Não se sabe a hora exata que foi dita. Pode ter sido na reunião, como pode ter sido, quem sabe?, na primeira peneira, que aconteceu provavelmente no dia sete ou oito de setembro, no campo do Lenheiro recém arrumado pelo mutirão dos Corinthianos, ao lado do Parque da Luz. Quando o primeiro time foi escalado, para jogar no dia 10 contra o União da Lapa, que rivalizava com o próprio Botafogo da Rua Paula Sousa, pelo posto de melhor time das várzeas paulistanas.
Era gente que já era rival em campo, de times varzeanos rivais. Considerando que dois dias depois de montado o time, tendo inclusive que esfriar os ânimos entre alguns, o resultado de zero a um contra um bom time é explicável.
Nunca aceitável, para aqueles primeiros. É isso que nós herdamos, Família Corinthiana.
Tanto que o segundo jogo passamos a jogar bola, e a partir daí uma série invicta atrás da outra marcou a infância do Clube e a passagem da várzea para o futebol “oficial”.
Mas isso tudo trataremos mais tarde.
Voltemos à frase do Primeiro Presidente.

“O Corinthians é o Time do Povo, e é o Povo que vai fazer o Time”


Com esta frase, Miguel Bataglia resumiu o teor daquela reunião no primeiro capítulo desta coluna. Estava concretizado o surgimento do Corinthians Paulista, com toda a força da frase.
O Corinthians é mais que um fenômeno popular, mas o próprio Povo exercendo sua emancipação.É o que nos demonstra o Doutor Sócrates, mais de oitenta anos depois de Miguel Bataglia.



Ter tido a oportunidade de viver boa parte e mais importante período da minha vida dentro do Corinthians foi algo extraordinário para a minha formação. Estive no Corinthians entre 79 e 84.
O Corinthians é muito mais que um clube de futebol, O Corinthians é uma religião, é uma grande nação, mas muito mais que isso, o Corinthians é uma voz, o Corinthians é uma força, é uma forma de expressão que a sua população tem.
Num país em que os mais fracos social, política e economicamente não tem voz nunca, nesse caso tem. Quer dizer, através do Corinthians eles conseguem se manifestar. A Torcida Corinthiana utiliza o seu Clube, o seu time, a sua expressão física, como forma de contestação de tudo aquilo que não lhes é dado de direito
“.

Na verdade, o que Sócrates está dizendo é justamente o desenvolvimento de seu próprio Corinthianismo, como alguém que não nasceu em berço Corinthiano, como muitos de nós. Se tornar Corinthiano durante a vida talvez possa ser uma experiência mais emocionante do que, como eu, ter tido a família quase inteira Corinthiana desde sempre. É impossível medir, e está longe de nossos propósitos fazê-lo.
O Doutor compreendeu o que é o Corinthians como poucos, e passou a abraçar com a alma essa filosofia de vida. E nada além disso importa, certo?
O que está dito por Sócrates, portanto, é o desenrolar da própria história do Corinthians, e vem a ser tudo o que Miguel Bataglia já dizia que o Corinthians é.
Sócrates não apenas reitera a frase do Primeiro Presidente, como dá contornos atuais a uma postura política que sempre envolveu o Corinthians Paulista - emancipação popular é o nosso norte - posto que ele participou, mais que isso, fez acontecer um dos períodos mais Corinthianos da história do Corinthians e do Brasil, a Democracia Corinthiana.

É o que Lourenço Diaféria, na obra já citada, sintetizou como sendo o Corinthians Paulista: “Manifestação palpável do anseio popular por emancipação”.
O motivo para isso tudo foi o Futebol, claro. É intenção desta coluna fazer uma história do Futebol, nos próximos capítulos.
Foi o Corinthians que colocou o Povo no comando da disputa pela Deusa Bola. O Corinthians não é só um clube popular. O Corinthians é o Povo. Todas as camadas sociais, todas as cidades, todos os bairros, todas as ruas, todos os becos. Onde você for, encontrará um Corinthiano. Alguém que compartilha esse sentido da própria vida. É por isso que José Roberto de Aquino cunhou a célebre frase:

“Todo time tem uma torcida. O Corinthians é uma Torcida que tem um time”

 O desejo dos Primeiros Corinthianos seguiu em frente. Se concretizou, e se transformou na maior instituição popular do Brasil.
É esta nossa bandeira, que é nosso passado, e que é nossa lição.

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