quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Per Aspera Ad Astra: A história do mais querido do mundo (Capítulo III)

Per Aspera Ad Astra.

Pela árdua Luta, o Corinthians alçou as estrelas.
Por Filipe Martins Gonçalves

Quando falamos sobre o começo da Utopia, pouco podemos afirmar com certeza.
Entre 1910 e 1913, a história é ouvida quase que exclusivamente das memórias de quem viveu. Que contaram para os que foram chegando e abarcando essa paixão chamada Corinthians. De forma que são os “fantasmas” da memória que nos ilustram essa época. São os ancestrais. E, como dizíamos no primeiro capítulo, ninguém reuniu tantos “cacos” quanto Seu Toninho. Muito por ter sido assessor de imprensa e funcionário do Clube por cinqüenta anos. Mas vamos remontando esta História.
Na tese de Plínio Labriola* trazida à público também por Celso Unzelte na palestra apresentação deste sábado, 12/09, no Museu do Futebol, há uma nota do jornal “O Commercio de São Paulo” do dia 22 de setembro de 1910, assinalando o único registro público já encontrado a respeito do nascimento do Corinthians Paulista. Se existirem outros provavelmente nunca serão achados.
Pois as primeiras atas evaporaram. Não se sabe que fim tiveram. E este registro foi feito como se faziam registros de qualquer agremiação que surgia na Várzea, e não necessariamente na data, como se nota.
De forma que uma das únicas certezas que podemos atribuir, por exemplo, ao fato de o calção do Corinthians Paulista tenha sido sempre preto e a camisa sempre branca no primeiro estatuto e na imaginação dos primeiros corinthianos, é que Antônio Pereira, o autor do estatuto, afirmou que assim foi, e guardou consigo uma bandeira daquela época, metade preta, metade branca, como o uniforme.
A bandeira foi levada para o padre benzer. Quem um dia descer a rua dos Italianos, no Bom Retiro, verá do lado esquerdo, algumas quadras antes da rua da Quadra dos Gaviões da Fiel, uma pequena igreja, encolhida entre prédios residenciais. Foi ali que foi benzida a primeira bandeira, que acompanhou o Corinthians pela Várzea, e para além.
Várzea que, em pouco tempo, ficou pequena demais para aquele Clube, que “não passaria de um inverno”…
O Corinthians reunia uma turma de bons boleiros, os melhores que as Várzeas desta paulicéia poderiam gerar. Mas se em campo o Corinthians sagrava-se o Galo Brigador da Várzea, fora dele sempre penava.
Um ou dois meses (as fontes são contraditórias) após eleito Miguel Bataglia, ele entrega o cargo para seu vice, Alexandre Magnani. Alegava não ter como levar a cabo o empreendimento como ele requeria, por problemas pessoais. Mas estaria ao lado de seus amigos em todas as ocasiões. E é Magnani quem leva adiante a Utopia.
Cocheiros de tílburi eram como o taxista de hoje. Chofer sempre foi serviço pra bacana, e Magnani passava longe de ser um operário, como eram seus amigos fundadores. Mas não era nem um pouco rico. Representava, então, aquela gente que trabalha muito, tira o sustento e ainda logra-se em sonhos de aquisições materiais e imóveis.
Sendo que naquela época, o consumismo não era assim desenfreado, e publicidades eram na base do simples reclame.
Tudo o que Magnani queria era que seu Clube fosse vencedor, para ele poder fazer festa com os amigos em volta do campo, descascando tangerina ou tomando cerveja.
Era muito bem relacionado na “sociedade”, o senhor Magnani. O delegado que, dizem, chegou a ameaçar surrar toda a molecada do Botafogo para pararem com a baderna, Alcântara Machado (o pai do Antônio), e toda aquela gente comerciária que principiava a ganhar pequenas fortunas; o Corinthians de Magnani ganhava o Povão, de fato.
O campo do Lenheiro, ao lado do Parque da Luz. Este foi o primeiro território Corinthiano, para onde corriam os Corinthianos da época, quando não acompanhavam o Corinthians pelas Várzeas da vida.
Havia o aluguel do campo para se pagar e o aluguel da salinha. Não há documentos que comprovam este episódio, mas contam que um moleque de dessezeis anos, em 1912, para salvar as taças - inúmeras, tantas quanto as partidas que o Corinthians havia disputada, praticamente - liderou a turma que, com a escada de pintor de um dos tantos pintores que eram associados do Corinthians, pulou a janela e tirou tudo lá de dentro. No dia seguinte, o senhorio que havia trancado a sala e exigido tudo o que lá havia como garantia dos aluguéis atrasados, deu com o burro n´água. A dívida foi paga, muitos rateios foram feitos. Nada na vida do Corinthians foi fácil - que isto fique claro.
Só que a ousadia Corinthiana sempre foi tanta que eram inevitáveis as aventuras.
Esse moleque era o Neco.
A ata mais antiga data de 11 de abril de 1913.
E ali se encontra o início da história documentada, após a conquista da posição na Liga Paulista de Futebol. Um Clube de Várzea, de apenas 2 anos e sete meses, chegava ao futebol oficial. Um feito inacreditável.
Eis por que as atas, desde então, viraram documentos. A Utopia se tornava Oficial.
Mas nada foi fácil. Per Aspera Ad Astra. Pela árdua Luta, o Corinthians alçou as estrelas.

E quando se lê “árdua luta”, entenda-se “luta contra tudo e contra todos”. O brilho fulgurante do Corinthians sempre incomodou. E as aves pardas do anticorintianismo piaram, desde sempre. Mas o Corinthians deu o Futebol de presente para seu povo.

A História continua…

* NEGREIROS, Plínio José Labriola de Campos. Resistência e rendição: a gênese do Sport Club Corinthians Paulista e o futebol oficial em São Paulo, 1910-1916. Mestrado, PUC-SP, 1992. Orient: Elias Thomé Saliba.

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