terça-feira, 3 de agosto de 2010

Per Aspera Ad Astra: A história do mais querido do mundo (Parte XXVII)

O Time do Povo
Por Filipe Martins Gonçalves

O Mais Querido do Brasil, assim aclamado pelo Povo e não por meio de assessores ou pela voz de um ou de outro, disputou naquele ano de 1955 o troféu que homenageou o dito introdutor do Esporte Bretão no Brasil. O Troféu Charles Miller.
Nascido no Brás, foi mais que homenageado com uma Taça, pois teve a Taça foi conquistada pelo Clube do Povo.
Campeão do Centenário da cidade, o Coringão levou mais essa com um pé nas costas. Invicto, diante do Flamengo, Palmeiras, América do Rio, Peñarol e Benfica. E foi contra o time português que finalizamos a conquista. Com uma grandiosa vitória, de virada "para variar".
O gol que selou a vitória por 2 a 1 foi aquele famoso "Gol de Curbita", do Gerente Cláudio. Uma cobrança de falta com a máxima perfeição, com a bola fazendo uma curva que desnorteou o goleirão moçambicano Costa Pereira, o maior goleiro da história do Futebol Português. Ao ser indagado pelos repórteres no fim do jogo, disse: "Foi um gol de Curbita, o pá!". E o "nome" do gol ficou gravado na História. Indefensável obra prima do Gênio Cláudio.

Sobre o grande empate, contra o Vasco, pelo Torneio Rio-S.Paulo daquele ano, diz Cláudio, no Capítulo LVI da Obra "Coração Corinthiano", de Lourenço Diaféria:
"(...) O Vasco tinha terminado o primeiro tempo vencendo por 4 a 1. Descemos para o vestiário, a torcida em pé, as bandeiras abertas. Aquele distintivo nosso balançando sem parar. Subimos do vestiário, o juiz apitou, no começo do segundo tempo o Corinthians faz o 2º gol. Acontece que o Vasco estava impossível, desceu, fez o 5º. Olhei lá para cima, as bandeiras, a face da torcida. Parece um rosto só. Um único nariz, dois olhos luminosos, uma única pele, uma única boca gritando 'Corinthians!'. A torcida é uma coisa só. Fala com um, anima o outro, berra com aquele, e a torcida esperando o milagre. O time corinthiano fez o 3º. O Vasco tentou segurar, mas o fogo já tinha pegado no breu. Fizemos o 4º. O pessoal do Vasco resfolegava, tentava montar um paredão na defesa. E a torcida nossa berrando, berrando, parecia que todo mundo havia ido pro campo com uma trombeta dessas de filme do Ben Hur. Aí encaçapamos o 5º gol. Ninguém mais segurava ninguém. No finzinho do jogo, por um triz, um fiapinho de nada, quase que faço o 6º. Não fizemos o 6º, mas foi uma virada e tanto! Era um time de virada."

E ele diz mais. Sobre o Cabecinha de Ouro:
"(...) O Baltazar foi um jogador excepcional, um dos poucos cabeceadores que procuravam a bola, não esperava a bola chegar à cabeça. De centro, de escanteio, eu também já sabia onde ele gostava do lançamento (...) Eu centrava, ele pulava, cumprimentava, fulminava (...) de braços abertos, dava a cabeçada. Dificilmente errava".

No Timão das viradas, o Cabecinha chegou a fazer cerca de 150 gols desta forma; o Gerente, quase sempre ele, centrava e Baltazar fulminava. Era rotina. Assim como as Viradas.
Naquele ano quase veio mais um Bi-Campeonato. O Santos liderava o certame, e na penúltima rodada, em mais uma heróica virada, na Baixada, vencemos por 3 a 2.
Na última rodada, com um ponto de diferença, precisávamos da vitória. E ela veio, em um 2 a 0 sobre o Palmeiras. Aliás, diga-se de passagem, o grande rival perdeu dez para nós, e empatamos cinco, no período de 1951 a 1958. Foi maior tabu da História do confronto.
Mas, na Baixada, o Santos recebeu o pequeno Taubaté e venceu, ainda que no sufoco, por 2 a 1.
Tivesse havido uma Finalíssima, ninguém duvidaria do Bi-Campeonato.

Em 1956, o Corinthians levou a Taça dos Invictos.
Funcionava assim: a equipe que fizesse a série mais longa de partidas sem ser derrotada, levava a Taça.
O primeiro clube a levar foi o Palmeiras, em 34, na série de 22 partidas. Só em 46 a Taça foi levada pelo São Paulo, numa série de 23 partidas. Em 55, o Santos ficou com a Taça - por pouco tempo - numa série de 24. Logo veio o Coringão e, no ano de 56, numa série de 25 partidas, ficou com a Taça.
Cada um havia levado a Taça uma vez, e ficou acordado que quem superasse a marca Corinthiana, levava a Taça em definitivo.
E isso aconteceu no ano seguinte, em 1957. O próprio Corinthians superou a si mesmo.
Na 26ª partida, contra o Santos do menino Pelé, no Pacaembu, o Timão das Viradas perdia por 2 a 3. Aos 44 do segundo tempo veio o empate, pelos pés do centro-esquerdo Paulo, e a Taça ficou para sempre com o Coringão. A série chegaria a 35 partidas, para que a conquista fosse incontestável.
A Década de Ouro do Coringão se encerraria com um 5 a 1 sobre o grande freguês São Paulo, na conquista de mais um Troféu Charles Miller, em 1958.
E então se iniciaria uma época de "vacas magras" para o Futebol Corinthiano.
Que não se viu nas Bases do Futebol Corinthiano, nem no Basquete Corinthiano, nem na Natação Corinthiana, por exemplo. Muito pelo contrário.

Em 1959, Vicente Matheus foi eleito, pela primeira vez, Presidente do Corinthians.
Terminava a Era Trindade no Clube, marcada pela bonança, pelo charuto, pelas séries de invencibilidade, e pelas tantas e maravilhosas viradas, que os ancestrais tanto relembravam nas tardes de domingo, ensinando as gerações futuras que passaram pelo que iremos discorrer nos próximos capítulos. Campeão ou não, sempre Timão!

A História continua...

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O blog é sobre o Corinthians e eu sou chato pra caralho.