Per Aspera Ad Astra: A história do mais querido do mundo (Parte XX)
“Per Aspera Ad Astra”
Por Filipe Martins Gonçalves
Por Filipe Martins Gonçalves
O recém-empossado Manuel Correcher recebeu de José Martins da Costa, no final de 1934, um Corinthians recém-saído de uma daquelas crises titânicas…
A crise que começou em 1933 foi a mais contraditória de todas as crises do Corinthians Paulista, pois o Clube nadava, literalmente, em águas calmas na parte social, com muitos atletas, muitos associados, muita festa e muita vida em sua Sede.
A crise, antes de ser financeira, teve seu embrião neste “êxodo” de jogadores, como já dissemos no Capítulo XIX. Depois de meio time ter ido para a Italia, em 31, o Futebol do clube parecia ter ficado “esquecido”.
Foi essa acusação, uma das tantas que os Corinthianos da época fizeram à diretoria de Schürig, que fez com que se demitissem todos de seus cargos.
Na verdade, o time perdera sua ‘espinha dorsal’, e é sempre difícil reformular. Isso parece ser cíclico no Corinthians, é como a maré. Quem acompanha essa Saga se lembra que em 1917 aconteceu algo parecido.
Mas em 33 a coisa foi drástica. E a sede foi alvo de depredação de alguns associados, uma ala da Torcida mais radical, que sempre esteve presente no Corinthians.
Diante da catástrofe, a crise é conflagrada, e cai no colo de José Martins da Costa.
Bravo guerreiro, este Presidente não deixou a peteca cair…
E a levantou para Correcher. Na verdade, Correcher termina o trabalho de José Costa, e é parte dessa solução, como veremos.
A definitiva profissionalização do Futebol foi superada pela força do corpo social do Clube, além da Torcida, claro. E Correcher foi quem canalizou os esforços de todos os Corinthianos neste sentido.
O Corinthians, como sabemos, é um Gigante, e a ele basta uma condução acertada. No caso de Correcher, o carisma passava até adiante disso.
Era admirado, querido e exemplo de Corinthiano brigador.
Com ele é que o Corinthianismo se tornou de todo ‘espanholito’ – em todos os sentidos; a pimenta malagueta, o azeite fervendo, o modo intempestivo de agir, espontâneo de se expressar.
Com ele e com todo o contexto político e econômico do profissionalismo vigente, é terminada a época dos Presidentes que tinham que ser grandes mestres na arte de apaziguar assembléias.
Correcher era apoiado por todos os Corinthianos em todas as suas Corinthianíssimas atitudes.
“Con razón o sin razón, Corinthians tiene siempre razón”.
Esta frase se tornou símbolo de uma era de ouro do Corinthians.
O Corinthians sempre tem razão. Sempre. Isto resume o que ele significou para o Corinthianismo.
Depois de Correcher é que se pode entender o personalismo dos próximos presidentes.
De alguma forma, Correcher era o Corinthians, e vice-versa.
O Corinthians, bem conduzido, começa a jogar mais bola, volta a ter cara deTimão, volta a ser a máquina de jogar Futebol. Aos poucos.
Em 34 chega Teleco. E este goleador irá ostentar, pelo Corinthians, uma média histórica de mais de um gol por partida. Uma legenda.
O Coringão termina na 4ª colocação do campeonato.
Em 35, chega Mestre Brandão. Com Jango e Munhoz, forma-se uma das melhores linhas médias da História, depois da famosa linha da década de 20, Nerino, Guimarães e próprio Munhoz.
E com Jaú na zaga já se faz um time.
Del Debbio, Rato e De Maria retornam da Italia e Amílcar Barbuy volta ao Corinthians como técnico, mas não dura muito no cargo.
Foi nessa época que o Boca Juniors fez excursão no Brasil. Venceu por 4 a 0 o Botafogo do Rio. Sapecou o São Cristovão em 6 a 1. Empatou com o Vasco em 3 a 3, e com o Palestra em 1 a 1.
O último era o Corinthians, e os argentinos viriam para “ensinar”.
Nessa excursão, o Boca só perdeu para o Corinthians.
Aliás, os argentinos já perdiam por dois a zero quando resolveram fugir de uma goleada maior aos 20 minutos do segundo tempo.
Este episódio com o Boca Juniors tem seu “contra-exemplo” Corinthianista, de quando o jogo foi para o intervalo com o placar em 3 a 0 para o Vasco, em São Januário.
Os Corinthianos voltaram para a peleja, e no segundo tempo viraram o placar para 4 a 3.
O Corinthians era a cara do Correcher…
E termina o campeonato em 3º.
Em 36 o Corinthians é Campeão Paulista de basquete pela primeira das muitas vezes, iniciando uma das Tradições e Glórias mil do Coringão.
Nesse mesmo ano, no Futebol, o Corinthians consegue a ‘gigantesca’ proeza de permanecer invicto, e não ser campeão.
O Corinthians termina o campeonato em 2º.
Nessa época, o Corinthians fez uma excursão à Bahia de Todos os Santos.
Jogou com o Ypiranga, e o venceu nas duas oportunidades (2 a 1 e 2 a 0) com o Bahia (8 a 1 e 2 a 1) e com o Botafogo local (6 a 1). Era o Corinthians fazendo, em seu país, o que fazia o embaixador do Esporte Bretão.
Não é à toa que o Corinthians tem Torcida em todos os lugares. E existem Corinthians (clubes, times de várzea) espalhados em todos os cantos.
E em 37 já é, disparado na cidade, o que mais sócios tem. E por ser poliesportivo, tinha razão de ter tantos associados.
Em campo, o Coringão persegue o título até o fim – não deixaria acontecer de novo o que aconteceu em 36. O Palestra liderava o campeonato, sendo acompanhado de perto pelo Timão.
Eis que chega o jogo, no Parque Antárctica, contra o Palestra.
E Teleco, que jogou toda a partida machucado, faz o gol de cabeça. O Coringão vence por 1 a 0.
No sacrifício, o Herói Alvinegro colocou o Coringão na liderança, e bastou manter a diferença nas duas rodadas seguintes para pôr fim ao jejum até então mais demorado de sua Saga.
A História continua…