segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Per Aspera Ad Astra: A história do mais querido do mundo (Capítulo XIV)

“Per Aspera Ad Astra”

Por Filipe Martins Gonçalves

No capítulo anterior mencionamos o Sr. Guido Giacomelli.
Dissemos aqui que o Corinthians o havia colocado como técnico, criando uma função administrativa que até então não existia, e que ele funcionava, na prática, como um diretor de Futebol.
Isso tudo porque era, também, o presidente eleito. Portanto, o que o Corinthians fazia, em termos administrativos, era passar o comando do Futebol do Capitão para o Presidente. Como dissemos, não fosse o fator da construção do estádio da Ponte Grande, talvez isso não tivesse dado tão certo, como de fato aconteceu.

Guido acompanhou o Timão como técnico por 117 partidas, comandando craques como Neco, Amílcar, Del Debbio, Ciasca, Gambarotta, Tatu, Rodrigues, Grané, Colombo e Aparício, nomes que figuram no Panteão Alvinegro, na História que nenhum outro Clube tem igual, em uma época na qual o Futebol era feito com o suor no campo, o sangue nas veias, a fibra e a raça dos jogadores e do capotão da bola.
Seu aproveitamento foi nada menos que 78% e não é superado por nenhum outro técnico em qualquer outra época.
Sem dúvida foi um dos períodos mais marcantes e formadores do Corinthianismo. Pois quando o Corinthianismo não foi forjado na luta, como no ano de 1915, foi forjado nos louros da Vitória através dessa mesma luta.

Um episódio marcante desta época aconteceu no dia 9 de julho de 1922. Os aviadores portugueses, bravos que pela primeira vez atravessaram toda a extensão do Oceano Atlântico a bordo de um avião (rudimentar, por óbvio que seja, o que denota ainda mais a bravura, além de ter sido a primeira vez na História da aviação), estavam em Conferência na cidade.
Os Srs. Gago Coutinho e Sacadura Cabral tiveram o privilégio de verem, em homenagem ao próprio feito desbravador e corajoso, uma partida entre Corinthians e Palestra, desde então os dois clubes mais populares.
A Taça seria ofertada também aos órfãos da 1ª Guerra. Chamou-se “Taça Cântara Portucália”, e foi disputada no Pq. Antárctica. O resultado dessa partida foi 2 a 0 para o Coringão, mas o que importa mesmo é o acontecimento social, capitaneado pelo próprio Guido Giacomelli, como podemos ver na reprodução do cartaz.
Coisa de outros tempos.
 Cantara_Portucalia_1922
(Observem a “pose” dos palestrinos, à esquerda. Guido Giacomelli, com seu chapéu preto, na Tribuna ao lado dos homenageados, ao centro. As moças de chapéu, entusiasmadas, acima e à direita. O jogo foi 2 a 0 para o Coringão, e à direita, à meia página, podemos ver o frango da arqueiro palestrino, tomando uma bola debaixo das pernas. Vergonha palestrina!)

O Corinthians foi tri-campeão paulista sob seu comando, como já dissemos, e a base do time, construída por Guido, durou até o outro tri-campeonato, de 1928, 29 e 30.
Em 1923, e esses detalhes jamais serão explicados, Amílcar Barbuy, Corinthiano de primeira hora, que havia acompanhado e tido a companhia de Neco durante toda a carreira futebolística, desde a A.A.Botafogo, até o time principal do Corinthians, e que tinha uma ligação familiar com o Clube, se retirou.
Foi para o rival. Mas no ano seguinte o Corinthians sagra-se tri-campeão, sob o comando de Guido e Neco, e apesar de seu excelente Futebol jogado, Amílcar não faz assim tanta falta, pois a base de Guido se mostrou forte o suficiente para suprir qualquer carência naquele setor. O Corinthians não iria acabar por causa de um jogador.
Aliás, é sempre bom lembrar: o Clube que estava fadado a ser apenas um sonho sobreviveu e ano que vem completa o primeiro século de intensa vida.

A Ponte Grande foi o palco de tudo isso, mas não durou muito; cerca de dez anos. Aqueles problemas no contrato se mostraram irrevogáveis, como não teriam sido para outro Clube, e o Corinthians entrega um patrimônio construído com o suor dos associados à Municipalidade, sem qualquer tipo de compensação.
A contrapartida do Corinthians, na verdade, foi seu fortalecimento, seu crescimento, e a prova de que nada pode parar, obstruir ou tentar acabar com o sonho, com a utopia dos Corinthianos. Ficou da Ponte Grande a grande lição de vida, como é o próprio Corinthians; o Corinthians não desiste e cumpre seu compromisso sem depender de ninguém, a não ser de seu Povo. Pois o Corinthians é, assim mesmo, o seu próprio Povo.
O patrimônio era constituído de 13.506 m², um campo com arquibancadas, bares e vestiários, fruto de dez anos de trabalho árduo, com todas as árvores que a Prefeitura determinou que deveriam ser mantidas. E foi passado adiante à A.A.São Bento, que pagou quantia relativamente irrisória por tudo o que dispunha ali.

O sucesso do Corinthians era latente, a vontade dos associados por um terreno maior era grande, e já não havia terreno a dispor ao redor do Centro.
Guido passara a Presidência a Ernesto Cassano já em 1925, quando o Corinthians apenas assustou a anticorintianada faturando o vice.
Em 18 de agosto de 1926 a primeira gleba do Parque São Jorge começava a pertencer ao Sport Club Corinthians Paulista, em escritura lavrada no 6º Tabelionato de Notas.
Assad Abdalla e Nagib Sallem vendiam as terras que possuíam, naqueles lados chamados de “cinturão verde” da cidade, por conta das chácaras que ali havia, e que não passavam de um tranqüilo lugar para se “caçar tatu a pé”. Por conta da origem desses dois sócios, ficou marcada a versão incerta de que o Corinthians teria adquirido esse primeiro lote do clube Sírio.

Junto com o Corinthians chegava à futura Zona Leste dessa megalópole todo o seu Povo.
O Corinthians, nas mãos dessa nova diretoria, que soube arregimentar tudo o que Guido e seus antecessores haviam construído, se tornava um Clube com visão de futuro.
Ninguém imaginava, à época, que aquela bucólica e remota região seria um dos lugares mais povoados da cidade. Com certeza tal impulso deve muito ao Corinthians Paulista, que também aproveitou a existência do bonde da Penha para crescer e levar seu Povo ao seu novo estádio, outro monumento construído pelo suor e pelas mãos Corinthianas.

A história continua…

0

Postar um comentário

Se você é Porco, Sardinha, Bambi ou torcedor de qualquer outro time de menor expressão e quer que seus comentários sejam aprovados, escolha bem suas palavras.

O blog é sobre o Corinthians e eu sou chato pra caralho.