sexta-feira, 5 de março de 2010

Per Aspera Ad Astra: A história do mais querido do mundo (Capítulo XVI)

O Time do Povo
Por Filipe Martins Gonçalves

Antes de mais nada, pois faz-se necessário, começou 2010.
Ano mais que especialíssimo.
O Clube que não sobreviveria ao próximo inverno, em 1910, fará um século de História.
Sem exagerar uma vírgula, a História mais bela e que nenhum outro clube no mundo tem igual. E para o Corinthiano, só isso já é motivo para Festa.

Dito isso, retomemos a Saga Corinthiana. Por aqui parávamos na quase inaugurada Fazendinha. O Parque São Jorge, comprado dos sócios Assad e Nagib, ainda será pago em 12 parcelas anuais, conforme o contrato.
Do próprio bolso, dos bolsos dos seus sócios, portanto, o Clube do Povo adquire sua Sede definitiva.

O Corinthians já havia jogado ali no Parque São Jorge, contra o Sírio, em 1925. Mas para inaugurar o campo ainda levou um tempo.
Os Corinthianos fizeram mutirão para reformar as dependências do Estádio que viria a se chamar Alfredo Schürig, o que não foi por acaso.

O Corinthians apareceu definitivamente pela porta de seu escritório.
Ele era dono da fábrica de parafusos Santa Rosa, era também amigo de Alcântara Machado (ver capítulos anteriores), e era inevitável que alguém lhe sugerisse entrar no rateio, que muitos de seus funcionários organizavam, assim como eram organizados em todas as fábricas da cidade.
Foi dessa forma que o Corinthians surgiu e cresceu; por rateios.
Enfim, Schürig já ouvia falar bastante do Corinthians, mas ainda apenas lhe agradava a idéia do esforço daqueles operários.
Não havia ajudado financeiramente. Ainda não era sócio.
E o Corinthians ainda construía sua Sede na Ponte Grande quando o destino colocava o Corinthians definitivamente no coração de Schürig, e ele oferecia pela primeira vez todos os parafusos que a obra necessitou, quando seu funcionário veio lhe bater na porta do escritório.

Assim o fez novamente, na Fazendinha, depois de se tornar sócio.
As arquibancadas da Fazendinha eram de madeira, e o parafuso foi doado por Schürig. E boa parte da dinheirama que o Corinthians tinha a obrigação de pagar pela primeira gleba da Fazendinha (posteriormente o Corinthians adquire o outro lado da Rua São Jorge) foi arcada por ele.
Era um entusiasta do Corinthianismo, antes de se dedicar de coração e alma ao Corinthians. Gostava de Futebol desde antes do Corinthians nascer, foi ver o Corinthian inglês no Velódromo, mas não se entusiasmava com time nenhum, até que o Corinthians lhe surgiu.

Ernesto Cassano, presidente que contraiu a dívida da Fazendinha, um passo ousado e necessário para o Clube se firmar, deixava a presidência para Felipe Collona assumir. Schürig foi eleito vice. Era o ano de 1926, e se não honrasse os compromissos, o Corinthians veria todo o esforço ir por água abaixo.
No final daquele ano, Wladimir de Toledo Piza, que era sócio, médico e filho do delegado que vivia tendo problemas com o Botafogo da Rua Paula Souza há exatos cem anos atrás, foi quem precisou levar a aflição Corinthiana ao peito de Schürig.
A situação não estava fácil. E com o presidente presente, andando pela Fazendinha, lamentou para Schürig; “O Clube não tem o dinheiro todo para a prestação, Alfredo”.

Schürig tirou do bolso 30 mil contos, a metade que faltava para a segunda parcela.
E quebrou o gelo da conversa dizendo; “Nós vamos precisar de muito parafuso aqui!”.
E pela enésima vez a Santa Rosa de Schürig ajudou o Corinthians. Ajudou ainda nos pagamentos das parcelas que viriam, também.

Enquanto tudo isso afligia a Diretoria, os Corinthianos seguiam construindo a Sede, e desbravando o Parque São Jorge e o rio.
Del Debbio, craque dentro das quatro linhas, principiava a formar a primeira geração da Natação Corinthiana, como técnico. A primeira quadra de basquete do Parque São Jorge estava nos planos, e foi inaugurada em 28, de saibro, considerada uma das melhores da cidade. A peteca começaria só em 29.
O primeiro esporte ao qual os Corinthianos se dedicaram quando chegaram ao Parque, porém, foi o remo. O Corinthians comprou do Espéria dez barcos em excelente estado. E se lançou às águas do rio com a luta de Corinthianos que compreendiam o potencial esportivo do Corinthians. Isso em 1926.

As coisas estavam mais ou menos neste pé, a correria para construir a Fazendinha, e uma nova cisão no Futebol acontecia. O Paulistano se queixava da falta de amadorismo, mas se recusava a aceitar o profissionalismo. Em campo, passou a tomar vareio dos Clubes populares. O Corinthians, Tri-Campeão de 1922, 1923 e 1924, é o vice em 1925, quando Feitiço desponta no Futebol na Associação Atlética São Bento, da capital, e é campeão deste ano. Em 1926 o Paulistano abandona a APEA, que ele mesmo havia fundado, em 1913, para tentar colocar para escanteio o Corinthians, e os Clubes populares. E cria a Liga dos Amadores de Futebol. Ali, finalmente, pôde ser campeão. A APEA quem ganhou foi o Palestra.
O Corinthians arrumava o time, ainda, em 1927. Houve um triangular decisivo contra o Santos e o Palestra, que ganhou novamente. O Paulistano também ganhou. Mas o Corinthians ainda retomava fôlego, rearrumava o Time. Algumas peças haviam saído, e naquela época não era tão simples repor.
Tempos áureos estavam por vir, e os esforços dos Corinthianos resultariam em bons frutos.

O Estádio Alfredo Schürig foi inaugurado em 22 de julho de 1928, em um jogo comemorativo contra o América carioca. Alexandre De Maria, o ponta-esquerda recordista de gols do Corinthians, que tinha 1,90 metro, foi quem inaugurou a rede da Fazendinha. Aos 29 segundos do primeiro tempo! A partida terminou empatada em 2 a 2.
De quebra, neste ano de 1928, o Coringão é o campeão.

E a História continua…

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O blog é sobre o Corinthians e eu sou chato pra caralho.