segunda-feira, 19 de julho de 2010

Per Aspera Ad Astra: A história do mais querido do mundo (Parte XXIV)

"Per Aspera Ad Astra"
O Time do Povo

Por Filipe Martins Gonçalves

Aquela turma que compunha os juvenis, na década de 40, que fazia a Fiel comparecer ao Pacaembu duas horas antes do Timão principal jogar, já dava espetáculo, atuando por música quando subiram ao principal na década de 50 (inútil falar de novo tudo o que já está dito aqui).
E de cara conquistaram o Torneio Rio-S.Paulo de 1950.
Nesta década que começava, o Coringão entrava com o pé direito (e de cabeça... de ouro!).

Eram os tempos de Idário Sanches Peinado.
Se Neco já não podia mais jogar bola, sua Alma Corinthiana se incorporava no espanholito, que traduziu em ato, em campo de jogo, aquilo que é o Corinthianismo à sua valente maneira.
São feitos inimagináveis a qualquer comum mortal, ainda mais àqueles que concebem o Futebol com os olhos medíocres da mercadologia. Idário não é por acaso o Deus da Raça. A Fiel Torcida jamais ofertou aos seus qualquer apelido que não condizesse à realidade, pois nada no Corinthians é "à toa".
No caso de Idário, o apelido se tornou sinônimo.

Ao lado de Idário, o médio-direito, estavam as legendas Touguinha, médio-esquerdo, e Roberto Belangero, centro-médio¹.

Roberto Belangero era o Professor, o Mestre, o Cérebro; sua inteligência cadenciava o jogo ou fazia fluir, dependendo do momento do jogo.
Era o cérebro operante de um Timão que já contava com Cláudio Christóvam do Pinho, aquele que pensava e fazia gols, gerenciando no ataque o que o cérebro de Belangero armava no meio-campo.
Da sua ponta-direita, centrava para Baltazar, o Cabecinha-de-Ouro, o maior cabeceador do Futebol.
Jogavam pela ala esquerda Noronha, na ponta, e Nelsinho, centrado. Belfare e Newton finalizavam a escalação, com Bino no gol.

Ah, sim!... Não podemos nos esquecer do principal.
Naquele campeonato, o que funcionou contra o campeão carioca invicto de 49, o Vasco da Gama, foram as magistrais tabelinhas do Gerente com o Pequeno Polegar.

Era com Belangero e com Cláudio que contava Luiz Trochillo.
Que foi, senão o maior craque da História do Futebol², pelo menos o maior craque mais injustiçado da História do Futebol.
Corinthiano de berço, como a maioria do Timão Campeão de 50. Ídolo Corinthianíssimo por merecimento, e pelo inestimável talento.

Luizinho era pequeno, franzino, e se especializou em toda sorte de dribles, tendo criado várias modalidades deles. Quando recebia a bola e encarava o adversário, a Torcida se levantava pois sabia que dali sairia uma jogada espetacular. E, batata: uma jogada mitológica acontecia.

Foi apelidado Pequeno Polegar em uma das tantas excursões internacionais que o Coringão fez nessa época. No Velho Continente lhe atribuíram, com justiça, a alcunha; como o personagem, ele driblava os ogros adversários, derrotados por um Pequenino, que dava um baile em quem se metesse com ele. E fazia troça dos adversários, sim. E como não faria? A Torcida delirava...

Talvez disso tenha vindo a injustiça para com ele. Foi preterido na Seleção, mesmo sendo o maior de sua época. Seu Corinthianismo irreverente deixava de cabelo em pé os anticorintianos de plantão.

Com esta base o Coringão inicia a década considerada pelos ancestrais como a Era Dourada do Futebol Corinthiano. O Corinthians Paulista, que já era nacional desde a década de 20, se internacionalizava³.

E neste Torneio Rio-S.Paulo de 1950, o Coringão venceu nada menos que a base da Seleção Brasileira da Copa de 50. Era o consagrado Expresso da Vitória, do bacalhau carioca.
E de virada, como reza a Tradição Corinthiana, e como se acostumou a vencer esta mesma base nos anos seguintes, mais que nunca na História Corinthiana.
O Rio-S.Paulo era o campeonato mais nacional possível. Foram jogados 7 jogos, com 5 vitórias, um empate e uma derrota.
O jogo contra o Vasco foi realizado na 5ª rodada e foi emblemático, pois manteria o carioca como Vice até o fim do certame. O gol da vitória foi de Baltazar, de cabeça.
O Corinthians voltava a se sagrar campeão nacional após aquele "Campeão dos Campeões" de 1942, contra o mesmo Vasco da Gama.

E, se vencíamos a base da Seleção, aquela do Maracanazo, em junho de 51 vencíamos a base da seleção uruguaia.
No estádio Centenário de Montevideo o Corinthians Paulista representou o Brasil de verdade e aplicou um 4 a 1 sobre aqueles que derrotaram a base do Expresso da Vitória...

Carbone já havia chegado na centro-esquerda da linha de ataque, bem como Homero e Rosalém, formando a zaga. Nelsinho revezava com Colombo a ponta-esquerda, com Baltazar sempre de centro-avante, com Claudio e Luizinho pela direita, e Julião, Touguinha e Idário na linha média. Com Cabeção no gol. Naquele ano chega também Gilmar.

Trindade, o presidente que personificava o Clube, um grande orador, que conhecia como ninguém as aspirações do Povo.
Ainda que usasse isto em benefício político (e conseguiu muito benefício com isto, de fato), da mesma forma como usou a política em seu benefício no Clube, jamais essa forma de usar e saber lidar com o poder e com o Povo foi mesquinha, como costumamos a observar nos políticos.
O Presidente Trindade lutava, com a palavra e com a alma, pelo Corinthians.
E reavivou também a Tradição do charuto na Torcida, junto com o saudoso símbolo da torcida, o Chico Mendes.

Em janeiro de 1952 o Coringão conquistava o Paulistão de 51, com uma goleada sobre o Guarani de Campinas, por 4 a 0.
Com três rodadas de antecedência o Corinthians selava, após 10 anos de espera, devoção e muito amor, mais um título paulista.

A Molecada fazia História. Pela primeira vez no profissionalismo brasileiro uma linha de ataque ultrapassava a marca de 100 gols em um campeonato!
Cláudio, Luizinho, Baltazar, Carbone e Mário fizeram 103 gols em 30 jogos, uma média de 3,43 gols por partida.
O artilheiro de 1951? Carbone, com 30 golaços, segundo os ancestrais...

A História Continua...


*******
NOTAS

¹ O leitor notará que ao ler o texto de Citadini, haverá uma grande contradição de datas com relação a este texto. Aqui seguimos as indicações de Celso Unzelte. Touguinha era médio-esquerdo.

² Quem estiver lendo este texto certamente irá estranhar essa assertiva, que lhe parecerá um tanto quanto "irreal", mas não é nem um pouco. Explico.
O Rei do Futebol foi Pelé, e a isto não há qualquer contestação plausível. Pelé começou sua carreira na esteira do próprio Pequeno Polegar, e comemorou todos os campeonatos conquistados, nessa época, por este pequeno grande Ídolo. Sim, o menino Edson cresceu Corinthiano.
Mas Pelé foi um pouco mais que simplesmente um jogador de Futebol. Ele foi um Atleta completo. Se resolve na vida ter sido um maratonista, por exemplo, teria batido recordes e mais recordes. Tivesse resolvido ser jogador de basquete, seria o Rei do Basquete. Por isso é a coisa mais injusta se referir a qualquer jogador comparando-o a Pelé. De Eras em Eras a humanidade vê surgir um Atleta perfeito. E Pelé, por causa de seu pai, de Luizinho, do Corinthians e de seu próprio mundo, veio a ser o Rei do Futebol. Com toda justiça.
Está, porém, de fora deste rol de "simples" jogadores que jamais poderiam disputar qualquer modalidade esportiva, como poderia o Pelé. Nenhum, além de Pelé, é atleta perfeito.
Luizinho, por exemplo, foi bem maior que Rivellino, que era o segundo maior boleiro enquanto Pelé jogou. Luizinho foi também maior que o próprio Maradona. Ele foi o Mestre de todos estes.
Ocorre que aqueles que não querem ver o Time do Povo em seu lugar de direito, o Pequeno Polegar é considerado "um pouco mais que encrenqueiro", compreende?
Essa coisa de dar chapéu com a jogada já paralisada, ele já fazia. E deixava a anticorintianada mordidinha.
A imprensa de sua época o execrava por estas "peraltices", coisas que qualquer um - desde que não fosse Corinthiano - poderia fazer, e ainda ser agraciado.


³ A prova inconteste disso não será encontrada em livros, pois eles ainda são produzidos atendendo às vontades anticorintianas. Será encontrada entre os Corinthianos, tal prova. Alexandre Papasergio, no www.loucosporti.com.br nos traz o seguinte depoimento, muito mais que importantíssimo, e auto-explicativo, tanto deste quanto do próximo capítulo:

"Quando eu era pequeno (aliás não preciso falar que nasci corinthiano), eu adorava comprar revistas com histórias e feitos do Corinthians e de sua torcida. Certo dia, conversando com o meu avô Antônio, fui perguntar pra ele o porquê de o Corinthians ter vencido tudo em 1951, 1952 e 1954, e não constar nenhum título em 1953. Ele me respondeu que em 1953, o Corinthians passou praticamente metade do ano na Europa, e que havia massacrado todo mundo por lá. Eu não acreditei muito na época em que ele me falou isso, pois os programas de esporte jamais haviam tecido algum comentário sobre aquele feito. Já havia ouvido falar da Taça Rio vencida pelos inimigos verdes, do famoso Santos (que aliás só existe até hoje graças àquele time da década de 60), até de um suposto torneio com caracteres de Mundial vencido pelo Fluminense, mas de o Corinthians ter massacrado inúmeros times na Europa, nunca vi jornalista nenhum comentar.
Passaram-se alguns anos e com a idade, naturalmente aumentou também o meu Corinthianismo.
Um dos inúmeros livros a respeito do Corinthians que eu li, foi o almanaque do Timão (livro que pertence ao meu irmão Carlos, que por sinal é Corinthianíssimo graças a Deus). Vi feitos maravilhosos, como a difícil vitória por 4 x 3 em cima do Boca junior's em pleno La Bombonera na década de 60 (que também nunca vi nenhum jornalista comentar) ou então os 11 x 0 em cima do Santos Futebol Clube em plena Vila belmiro na década de 20, além de observar os incríveis relatos de grandes deslocamentos de pessoas em trens para ver o Corinthians jogar onde quer que fosse já na década de 30 (época em que conquistamos nosso terceiro tri-campeonato estadual). Mas quando me deparei com os jogos de 1953, não pude conter as lágrimas... O Corinthians, que era o atual Bi-campeão (51/52) do Torneio Rio-São paulo (e pra quem entende pelo menos um pouco de futebol sabe que este era o maior campeonato que se disputava no Brasil) foi convidado a uma excursão pela Europa e simplesmente venceu praticamente todos os jogos que teve, com exceção do primeiro. Venceu equipes como a Lazio, Internazionalle, Real madrid, Barcelona, Galatasaray, Fenerbach, Torino, Borussia Dortmund, entre outras equipes, sem contar com vitórias sobre seleções da Turquia, Finlândia, etc.
Voltou para o Brasil com o título de Bola de Ouro do futebol Brasileiro. Nunca ouvi ninguém da imprensa falar sobre isso. Conquistou ainda, naquele ano, o título da pequena taça do Mundo disputada na Venezuela. Deste, já ouvi alguns jornalistas comentarem.
Mas emoção mesmo, eu e meu irmão iríamos sentir em 2006, quando em uma viagem ao Sul da Itália para conhecermos a família de nosso pai, em meio a uma torrencial discussão sobre futebol, ouvi os italianos dizerem coisas sobre Juventus de Turim, Santos de Pelé, Milan de Berluskoni, São Paulo de Raí, Internazionale de 66, Roma de Falcão e Flamengo de Zico. Frustrado, tentei saber se alguém não tinha nada pra dizer a respeito de Corinthians. Meu primo "Mimmo" ,sorrindo, perguntou se nós estávamos preparados para perder o Carlitos Tevez para algum time da Europa. Seu pai, o "Pinno", comentou algo sobre o campeonato mundial da FIFA conquistado pelo alvinegro em 2000. Mas foi um tal de Sr Vincenzo, amigo da família, que fez eu entender o que é de fato o Corinthians no cenário mundial, pois ele tomou a fala e disse com essas palavras:
- O Corinthians é um time que veio para a Europa no começo dos anos 50 e mexeu com o brio do continente. Eles tinham um "nerone" (negão, referindo-se a Baltazar) que cabeceava mais forte do que um chute. Tinham um bigodudo (Cláudio) que cruzava a bola com uma perfeição que eu só vi o Puskas (jogador da Hungria) fazer igual. Tinham um baixinho (Luizinho) que driblava feito um diabo. Que time! Eu fui assistí-los jogar contra a Lazio. Sinceramente... time igual àquele, só a Itália de 38. Por causa do ego europeu ferido que eles deixaram por aqui, times como Real Madrid e alguns da Inglaterra começaram a idealizar um torneio em que o campeão da Europa enfrentasse o campeão da América (veja o que o cara nos falou!!!).
Ao ver o alvorosso que o Sr Vincenzo, um juventino fanático, causou com aquela declaração, eu só tentava limpar minhas lágrimas, mas elas não pararam mesmo de rolar, quando ele finalizou com a seguinte informação:
- Anos depois, fui assistir a um jogo entre Milan e Santos onde diziam que valia pelo Mundial e reconheci de pronto o goleiro da equipe brasileira (Gilmar), pois era o mesmo que defendia o Corinthians anos antes. O Santos era formidável (disse ele), mas percebi que não trazia tanta paixão como o Corinthians.
Quando ele finalizou, concretizou-se uma forte discussão entre nós (eu e meu irmão) Corinthianos, e eles que eram quase dez pessoas que apesar de calabreses eram apaixonados pela Juventus de Turim. A discussão finalizou, quando através da internet, mostrei-lhes uma fotografia tirada de um helicóptero que mostrava o Morumbi com cerca de 146 mil corinthianos em 1977 e um deles concluiu:
-É!... Una Tifo incredibile ( Uma torcida inacreditável)".

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