segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Per Aspera Ad Astra: A história do mais querido do mundo (Parte XXX)

O Time do Povo
Por Filipe Martins Gonçalves

O dia 13 de outubro de 1977 não começou naquela madrugada, não terminou naquela noite de Festa Corinthiana. Veio vindo de muito antes, com o desprendimento de um Povo para a maior de suas provações. E foi para muito além, com este Povo provando ao mundo do que é feito, deixando muito bem claro que o mundo é dividido entre Corinthianos e anticorintianos.

A provação do Povo Corinthiano não foi tanto o tal jejum de conquistas, pois já vimos por aqui de que forma esse tempo passou para o Corinthians, e não foi propriamente um jejum. A grande provação foi suportar as maledicências dos detratores, a verbalização do ódio oportunista e incontido daqueles que não suportavam o Clube do Povo. Por toda a História víamos acontecer isso, mas os vinte e dois anos, oito meses e sete dias foram tão cruciais para a formação do Corinthianismo quanto havia sido o ano da rasteira, de 1915.

O Corinthians é a Fiel Torcida, e vice-versa. Que durante este tal de jejum mostrou ao mundo o que é Corinthianismo. Uma reportagem de 1971 registra o que diz um Corinthiano, com propriedade; “Quando o Corinthians for campeão, tocaremos fogo no mundo!”. No ano de 1974, aquela falta roubada sobre Rivelino, que fez com que os detratores se refestelassem na sujeira, fez também com que a Fiel acordasse para os anos seguintes. Em 1976 a Fiel dava mostras do que iria ser o dia da libertação, com as tantas invasões a outras capitais, em estados longínquos, no sul, no nordeste, no Rio, enfim. A Torcida Corinthiana sempre foi assim, como massa de pão; quanto mais bate, mais cresce.

A prova de que o Corinthianismo se alimenta não de conquistas, quinquilharias, bijouterias, mas da aura e do amor da Fiel Torcida, está aí para que todos vejam. A Torcida cresceu a tal ponto, nesses anos do tal de jejum, que até hoje os detratores fingem que engolem este fato, e não gostam sequer de comentar. Pois ele desenha com exatidão, para os que fingem não ver, o maior gigante que é o Coringão.

A invasão ao estádio estadual da cidade, no domingo anterior ao dia 13, que representa a maior lotação da referida praça em jogo de Futebol (que era a que servia aquele local, antigamente), e a derrota daquele dia, com a Fiel expressando sua esperança e fazendo Festa mesmo em um revés, tudo isso complementa a situação que se desenhava para aquela noite do dia 13. Mas antes de falarmos da noite em que um Anjo Corinthiano arrematou uma bola que lhe sobrou na área, depois de seguidas tentativas, e libertou o Povo da tirania dos detratores, devemos voltar no tempo, ao final da década de 30.

Comentávamos no capítulo dezenove o caso de Euclydes Barbosa, que foi subornado por um palestrino. Mas Euclydes dividira aquela grana com os companheiros, e entregou o palestrino para a justiça desportiva, e ele ficou impedido de ter cargo em clubes durante um bom tempo. Foi em 1932, ano em que a máscara do amadorismo caiu, e se pôde praticar o profissionalismo às claras nos anos que se seguiram. Ocorre que os anos que seguiram não foram bons para o Corinthians. Euclydes Barbosa, o grande zagueiro Jaú, se via tachado por alguns Corinthianos de vendido, por conta de uma leitura errada do episódio do suborno. Um disparate à nobreza de Jaú, que ele custou a perdoar. No filme "23 anos em 7 segundos" está contada a História do sapo. Pai Jaú está também no totem do Memorial, assim como Brandão, e todos os outros do Panteão Corinthiano. Por isso existiu o célebre programa de rádio da década de 70, que reunia personagens como "Pai Jaú", "Nega", e que fez a Nega ser muda até o Corinthians ganhar o campeonato. Era uma Lenda que percorria o imaginário, aquele sapo enterrado. E era uma verdade. Corinthianíssima verdade. Como se vê no mesmo referido filme, existe até quem mate bode e desenhe triângulos para baixo... Fato é que durante esse tempo todo o sapo ficou esteve ali, por assim dizer. Na semana que começou, após a derrota de domingo, sob uma tempestade homérica, o sapo foi lavado.

O Corinthians entrou com sua mística camisa preta e branca, e jogou bola pra ganhar o jogo. A macaca sentiu a pressão da noite Corinthiana. E o gol sai só aos 37 do segundo tempo, mas é tão decisivo que quando se escuta a narração de Osmar Santos, por exemplo, uma das melhores e mais apaixonadas narrações já vistas na história, se vê que a vitória havia chegado. É a narração da libertação.

O dia seguinte, que continuou aquela noite, encontrou o mundo mudado. Mas não era uma mudança como aquela do dia 1° de setembro de 1910, que foi silenciosa, a passos curtos, uma revolução construída tijolo por tijolo. A mudança era latente, se sentia no ar, que estava elétrico. Corinthians Campeão! Todos os armazéns anticorintianos agora deviam o prometido fiado. Vingança do Povo!

A mão que pôs, na encruzilhada, a vela
A mão que na bandeira pôs a vida
A mão que sem mais essa nem aquela,
No ingresso deu o prato de comida

A mão que se crispou em agonia
A mão que no incentivo se agitou
A mão que deu na cara da ironia
A mão que desaforo não levou.

É a mesma que amanhã no trem lotado
Vai mostrar no jornal, escancarado, na manchete:

CORINTHIANS CAMPEÃO

E ninguém vai chorar do mau salário, da condução
Nas ruas, o operário vai refazer os gols do Geraldão”

(do Coração Corinthiano, mais apaixonado que qualquer coração)

A História Continua...

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