quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Per Aspera Ad Astra: A história do mais querido do mundo (Parte XXXIII)

O Time do Povo
Por Filipe Martins Gonçalves

O Bi-Campeonato da Democracia Corinthiana veio em 14 de dezembro de 1983, com golaço do Doutor, e um empate. Sobre nossos maiores fregueses, sacramentando uma das grandes freguesias do Futebol brasileiro.
O Povão Unido, Democrático e Corinthianíssimo, derrotava a associação que queria ser o que é o Clube do Povo, mas nunca será. A associação que simboliza tudo o que o Coringão nunca precisou ser, para ser o que é; o Clube do Povo. Não o Clube para o Povo, pois isso é decorrência de sua própria História, mas o Clube feito do Povo para o Povo, o que significa muito mais.
Talvez por isso tudo a campanha contra a Democracia tenha sido muito mais acirrada, por meio da imprensa e do próprio status quo. Derrotada a associação do status quo seguidamente, os detratores tiraram as asinhas para fora, e começaram a difamar a Democracia Corinthiana...

No ano seguinte, disputando o Campeonato Brasileiro, no meio do tumulto pelas Diretas Já, cujo único Clube a defendê-la em campo foi justamente o Nosso Coringão, essa campanha contra a Democracia se tornava maciça.
E nisto tudo, a derrota nas semifinais, para o Fluminense de Parreira, mesmo após uma sensacional virada contra o Flamengo nas quartas, e a derrota da Emenda Dante de Oliveira no Congresso Nacional (assim se denominava a Diretas Já) apressaram a saída do Doutor, que havia dito que se passasse a emenda permaneceria no Brasil. Mas não. Muitas propostas ele havia recusado, enquanto praticava a Democracia Corinthiana. E agora já não havia clima, e ele cumpriu seu 'combinado'. Foi para a Italia...

A Democracia Corinthiana vivia em meio a ataques externos, e também dentro de uma contradição interna. Elevar o operário do Futebol - o próprio jogador - a uma experiência revolucionária e autogestionária se contrastava com o que queria o Diretor Adilson Monteiro Alves, que era modernizar o Futebol. A Democracia foi, portanto, um dos grandes passos para a criação, no Brasil, do Clube-Empresa. Contraditoriamente ao que buscavam os jogadores, como o próprio Doutor.
José Paulo Florenzano, na obra citada no Capítulo anterior, no Epílogo desta obra, assim encerra sua tese:

"(...) vista da perspectiva dos valores democráticos, a bagagem cultural adquire densidade histórica, revela-se plena de significados e demonstra que o legado que ela carrega não se desmancha nos ares da globalização. Do que se trata? Da carta de fundação da República do Futebol, cujos princípios podem ser assim enunciados: reconciliar o corpo e a alma, religar o atleta ao cidadão, estabelecer o elo entre o autogoverno coletivo da equipe e a existência autônoma de cada jogador. Eis, por certo, o bem mais precioso que podemos encontrar na bagagem culturak legada pela Democracia Corinthiana: o de reunir a dimensão estética do Futebol-Arte à dimensão ética do Futebol como prática de liberdade".

Aos poucos, e ao longo do tempo, o esforço por diminuir e encerrar essa prática de liberdade foi levado à cabo, e com as novas leis promulgadas no Futebol, e a ausência de vontade de liberdade dos próprios jogadores de modo geral, fizeram o Futebol voltar a estar sob domínio dos patrões, encerrando o sonho da liberdade autogestionária no Futebol.

E o Coringão reformulava-se. Depois de perder a última partida do Paulistão, em 2 de dezembro, para Serginho Chulapa (que viria ao Corinthians depois disso) aos 27 minutos do segundo tempo, para o ano seguinte, com o montante lucrado com a venda do Doutor, formou-se uma verdadeira Seleção.
Que fracassou em campo, neste ano de 1985, por problemas não de Futebol, mas por disputas internas entre os jogadores. Já não se entendia os valores Democráticos, e assim o Coringão voltou a olhar para sua Categoria de Base (a que mais gera valores no Futebol brasileiro, até hoje) e a apostar em jogadores bons, mas baratos.

Márcio Bittencourt, o valoroso Marcião da Fiel, é exemplo da base. E Wilson Mano, o grande 12º Titular, o coringa de todas as horas, é exemplo de jogador barato. Ambos fizeram história nesta época que contaremos agora. Passou, portanto, 85. Passou também 86, com resultado ruim para o Corinthians, mas satisfatório, uma vez que o rival de verde caiu diante do campeão interiorano naquele ano.

E chegamos a 1987. O Coringão ia bem mal. No primeiro turno figurava em penúltimo na tabela. E a imprensa detratora, como sempre, tentava levar a piada aos leitores e ouvintes. A tabela foi até invertida, em um jornal, para que o penúltimo pudesse se ver "no topo", como se isso importasse a quem quer apenas o Corinthians...
E isso aconteceu no segundo turno. O gato preto cruzou o campo do Pacaembu, e o Coringão voltou a vencer, e foi o maior pontuador, além de ver Edmar, do Coringão, se sagrar artilheiro. E na Final, a moedinha caiu em pé, numa daquelas raríssimas vezes em que a associação do poder público corrompido conseguiu algum triunfo decisivo. Mas a lição aos detratores estava novamente dada. Com o Coringão, a Grande Fênix que sempre renasce, não se brinca nunca!

Em 1988, o Timão vinha embalado, mesmo com essa derrota revestida de glórias.
Um grande arqueiro chegava das categorias de base. E impedindo justamente essa associação de converter um penalti.
Ronaldo Soares Giovanelli ouvia os locutores, pela primeira de muitas vezes, gritarem o famoso "defendeu Ronaldo". Nesse jogo contra a associação das madames, o Coringão rumava para a decisão, depois de uma ajuda do próprio rival de verde, que foi ironicamente saudado nas Arquibancadas Alvinegras.
Que aconteceu em Campinas, contra o timaço que ainda tinha o bugre campineiro. Tanto que só se falava do bugre, na imprensa, naquele mês de julho.
Na primeira final, José Ferreira Neto marcou o gol de empate do bugre. Golaço, de bicicleta...
Ao Coringão só interessava a vitória. E o técnico Jair Pereira tentou algo inusitado, com a cara e a coragem, pois Edmar, seu centroavante artilheiro, estava fora.
Foi buscar um moleque de 19 anos da nossa grandiosa Base Corinthiana.
Dela, já tínhamos Paulo Sérgio Silvestre do Nascimento, o meia-atacante. Quem chegava era outro Paulo Sérgio.
E foi na prorrogação, no Brinco de Ouro, que o Campeão dos Centenários faturou mais um título em ano de Centenário. Dessa vez, o Centenário da Abolição da Escravatura no Brasil.
Viola, o Terror, aproveitou o chute de Wilson Mano para jogar a canela esquerda na bola e desviá-la para o gol.
Corinthians Campeão Paulista, pela 20ª vez.

Todos desta geração, a exemplo do gol de Basílio em 1977, repetimos o gol de Viola nesta Final, pelo menos uma vez na vida...
Coisas que só o Corinthians faz.

No ano de 1989 tivemos a contratação de José Ferreira Neto, que jogava no time verde comandado por Leão, e eles não se "bicavam". Numa troca ousada do presidente Matheus, que havia retornado ao Clube ainda em 87, substituindo Roberto Pasqua, que havia comandado o Clube entre 85 e 87, Neto surgia no seu Timão do Coração, para ser ídolo. Não naquele ano, mas em 1990.
E deste ano pouco podemos falar além do que o leitor se lembra.
Surgia no Coringão, também, Pedro Francisco Garcia, o Tupãzinho. E Claudinei Alexandre Pires, o Dinei, que descia as Arquibancadas e trocava sua farda de Gavião pelo Manto de jogador do Clube do Povo.

E a Festa começou com a virada, em 24 de novembro, sobre o galo mineiro no Templo Sagrado do Pacaembu.
Dois gols de Neto no segundo tempo... Quem não se lembra?
Na semifinal, contra o Bahia, mais uma virada. Com gol de Neto, fazendo a Fiel Torcida abalar as estruturas do Templo! Quem não se lembra??
Nas duas decisões o Coringão segurou o zero a zero na casa do adversário. E foi para a final, justamente contra a maior freguesia.

No primeiro jogo, Wilson Mano fez o seu e assegurou a apertada vitória sobre a associação das madames. E no segundo jogo Tupãzinho, a exemplo do próprio Viola em 88, fazia um gol Corinthianíssimo, disputado, chorado, sangrado, suado - quem não se lembra???

O Coringão sagrava-se Campeão Brasileiro, com a cara e a coragem!
Um time desacreditado propositadamente pelos detratores, mas que viu sua Fiel Torcida acompanhá-lo com a devoção que o Clube do Povo merece e sempre tem.
Mais um título com a cara do Corinthians, conquistado como prova de carinho ao seu Povo.
VIVA O CORINTHIANS!

A História Continua...

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O blog é sobre o Corinthians e eu sou chato pra caralho.