terça-feira, 29 de novembro de 2011

Scarpelli em dia de Pacaembu

*Por Leonor Macedo

Jogo pra corinthiano nunca começa no horário oficial da televisão ou das federações. Esse contra o Figueirense, por exemplo, começou meses antes, quase na metade do campeonato, quando nada estava definido (mas já éramos líderes).

Quando comprei minhas passagens para Florianópolis, ainda não sabia que poderíamos ser campeões na penúltima rodada do Brasileiro. Também não sabia como seria para comprar ingresso, qual seria a nossa porcentagem de lugares no estádio, se ia ter hotel pra ficar, se ia chover, se faria sol.

Não sabia sequer se ainda estaríamos perto do título. Mas é sempre assim e isso era o que menos importava: o corinthiano gosta é de estar diante do Corinthians, de se fazer presente e de viver o Corinthians. Foi assim que eu aprendi.

Então, no sábado cedinho, juntei a minha turma, peguei um avião e fui pra Floripa. O aeroporto de Congonhas já estava tomado antes das 7h: todo mundo exibia no peito um distintivo e empunhava a sua bandeira para a nossa invasão particular. Se a geração dos meus pais pôde lotar o Maracanã em 1976, nós mostraríamos que aprendemos direitinho para lotar o Orlando Scarpelli (guardadas, claro, as devidas proporções de uma época em que não se falava em cota de ingressos para visitantes).

No vôo, entre avisos do piloto, ecoou o hino do Coringão e um “VAI, CORINTHIANS!” coletivo na decolagem. Um corinthiano nato chamou o comissário de bordo para uma informação: “Ô, cobrador! Ô, cobrador!”. Já era tudo nosso no avião que virou busão, na Floripa que virou São Paulo por um fim-de-semana, no Orlando Scarpelli que teve um dia de Pacaembu.

A ilha da magia nos recebeu muito bem, como sempre. No sábado, lotamos os bares, as praias, os hotéis, os restaurantes, as calçadas. Ouvimos o apoio dos avaianos, as brincadeiras dos figueiras e conhecemos milhares de corinthianos da ilha, felizes demais pela possibilidade de ver tão de perto um título do Corinthians.

Sábado foi dia de encontrar um monte de gente conhecida na Lagoa da Conceição, esbarrar com o amigo do bairro, ou do trabalho, sem nem saber que eles iam. No domingo, a história mudou um pouco de figura: a tensão deu lugar a uma certa hostilidade e andar de camisa do Corinthians significava ouvir uns palavrões.

Normal. Já estamos acostumados.

Até às 17h, as caravanas das torcidas continuaram chegando e era evidente que haveria uma super lotação do nosso setor, muitas pessoas sem ingresso do lado de fora ou uma tomada de lugares da torcida adversária. Alguns amigos meus compraram entradas nas arquibancadas do Figueirense, outros tentavam a qualquer custo um passaporte de alegria.

Às 16h, a muvuca já era grande para passar nas portas apertadas do estádio. Empurra-empurra, aperto, sem água pra beber, um sol de rachar, mas o que importava era estar lá dentro. E quando eu consegui, me veio aquela sensação de
estar em casa.

Sempre me impressiono com a capacidade do corinthiano de ser maioria, mesmo sendo minoria. A gente canta o jogo todo, os 90 minutos, porque a gente acredita mesmo nessa história de 12º jogador. Nós já ganhamos muito título para o Corinthians quando a equipe era limitada, quando não tínhamos grandes craques. Pra ser torcedor também é preciso ter raça e quando a gente viaja pra ver o Corinthians sempre parece que gritamos mais.

O corinthiano faz de qualquer canto do país a sua própria casa: a gente chega, tira o sapato, tira a camisa, abre a geladeira e coloca os pés na mesa, mesmo quando é a primeira vez. E isso incomoda. No Orlando Scarpelli, como em qualquer lugar, nós sabíamos que éramos contra tudo e contra todos, contra a torcida dos anti, de um Brasil inteiro que prefere um Vasco campeão a agüentar um corinthiano feliz.

Recalque.

E é por isso que a gente se agiganta. Pra espantar toda essa zica, é preciso muita espada de São Jorge, é preciso cada um de nós valer por 10, cantar por 10, gritar por 10, torcer por 10. Ontem foi assim em Floripa, no Brasil e no mundo: cada torcedor corinthiano foi um gigante. E agigantamos o Alex que conseguiu enxergar o gigante Liedson mesmo de cabeça baixa. E o Liedson, com seus 10 metros de pouco mais de um metro e meio, meteu a bola na rede.

Foi sofrido, mas foi de goleada de 1X0. Achamos mesmo que seríamos campeões e fizemos a nossa parte. O Corinthians e o corinthiano só dependem deles mesmos.

Nós precisamos do Corinthians pra viver e o Corinthians precisa da sua torcida pra sobreviver. Quando a torcida do Figueirense comemorou o segundo gol do Vasco, foi um pequeno balde de água fria, é verdade, mas a gente bem sabia que o Campeonato não teria acabado mesmo se tivéssemos sido campeões.

Domingo que vem é dia de Corinthians e Palmeiras e um Derby é sempre um Derby de respeito.

Acordei hoje de manhã, ainda em Floripa, até gostando de ainda não ter sido campeã. Porque ganhar em cima deles, na arquibancada amarela do Pacaembu que já tem o formato da minha bunda, será ainda melhor.

Vai, Corinthians!

Porque nós, corinthianos, sempre vamos.

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*Leonor Macedo (foto), 29 anos, é jornalista da Fundação Vanzolini-SP.

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